quinta-feira, 17 de janeiro de 2008



17 de janeiro de 2008
N° 15482 - Nilson Souza


Meninos apaixonados

Em vez de empunhar a arma imaginária dos artilheiros, como costumam fazer alguns conhecidos fuzileiros da bola, ele usou os dedos do gatilho para desenhar um coração.

Ao homenagear a namoradinha com um gesto explícito de paixão, o menino Alexandre Pato deu um toque de ternura adolescente ao Planeta Futebol e expôs despudoradamente, diante das câmeras e do estádio lotado, a face branda desse esporte popularizado a pontapés e a provas de virilidade.

Futebol era unicamente para machões. Agora é para quem tem coragem de encarar desafios sem mascarar a sensibilidade.

Pato não é o primeiro atleta a transformar o seu momento de vibração numa demonstração de carinho e afetividade. Já faz algum tempo que os gladiadores da bola vêm substituindo palavrões de desabafo e gestos agressivos por coreografias divertidas, manifestações de fé ou recados familiares. Invariavelmente, funciona. Muitas vezes, emociona.

Não é incomum que mesmo o torcedor mais exasperado suspenda momentaneamente sua fúria quando vê um jovem atleta correr para a beira do campo e embalar o bebê recém-nascido ou que está para nascer - mímica lançada pelo baiano Bebeto na Copa do Mundo de 1994 e que caiu no gosto da rapaziada.

O coração que Pato construiu com as mãos (e também com o próprio coração) ilustrou as páginas esportivas dos jornais da semana e passou um recado importante aos adolescentes de todo o mundo, nesta fase da vida em que as dúvidas se multiplicam e as personalidades se formam.

É possível, sim, conquistar espaço numa sociedade extremamente competitiva sem renunciar à civilidade e ao romantismo. É possível, sim, ser ao mesmo tempo valente e humano, destemido e delicado, forte e carinhoso.

Esses moços saberão um dia que também é possível amadurecer sem perder a ternura. Homens de verdade não se constrangem em agir, de vez em quando e na hora apropriada, como meninos apaixonados.

Veja-se este exemplo: há poucos dias, o compositor Dorival Caymmi comprou orquídeas para o aniversário de 86 anos de sua mulher Stella Maris e registrou no cartão:

- Não é possível amar como eu te amo. Seu marido, Dorival Caymmi. Ele desenhou o seu primeiro coração para Stella há quase sete décadas, possivelmente numa bela canção de amor e mar.

Uma excelente quinta-feira especialmente para você.

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