Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
30 de janeiro de 2008
N° 15495 - David Coimbra
Os ódios tantos de Graciliano
Graciliano Ramos odiava.
Odiava paisagens. Havia uma janela ao lado de sua mesa de trabalho, em seu apartamento na Tijuca, mas ele a mantinha sempre fechada - antes fosse uma parede nua, antes fosse um cofre.
Odiava sua terra natal.
- Aquilo daria um bom golfo - costumava dizer a respeito da Alagoas onde nasceu na última reta do século 19.
Odiava vanguardistas e modernistas. Considerava-os todos uns homossexuais. Que, aliás, odiava, definindo-os como seres "perversos e repelentes".
Volta e meia, Graciliano tinha o desprazer de encontrar certo crítico de artes plásticas na Livraria José Olympio, então incrustada na histórica Rua do Ouvidor, Centro do Rio, ponto de poetas, escritores e intelectuais.
O crítico, notório homossexual, estendia-lhe a mão, afetuoso e sorridente. Graciliano o cumprimentava e, ato contínuo, corria para o banheiro, a fim de lavar-se até os cotovelos.
- Não sei onde ele andou pegando - justificava.
Stalinista convicto, Graciliano Ramos nutria vigoroso ódio pelos trotskistas, aos quais desprezava tanto quanto aos nazistas.
Mas nem nazistas nem trotskistas mereciam-lhe mais ódio do que a figura gramatical do anacoluto, ele que era dono de texto preciso, militarmente correto, a sentença impecável, sujeito, verbo, complemento e ponto; sujeito, verbo, complemento e ponto.
A tudo isso odiava Graciliano Ramos, e nem de Machado de Assis gostava muito. Chamava-o de "negro metido a inglês". Quer dizer: até do ódio racista se alimentava Graciliano Ramos.
Tanto lhe preocupava a cor e a raça que, um dia, perguntou ao primo, o antropólogo Artur Ramos, se Heloísa, sua segunda mulher, era branca. Para seu profundo pesar, o antropólogo disse-lhe que ele estava casado com uma mestiça.
Essas histórias todas a respeito de Graciliano Ramos eu as colhi do excelente livro "As Obras-Primas Que Poucos Leram", organizado por Heloísa Seixas. O texto sobre Graciliano foi escrito por outro alagoano, o poeta Lêdo Ivo, imortal da Academia.
Lia o artigo e, ao mesmo tempo em que me divertia com a fluidez do texto de Lêdo Ivo, espantava-me com o caráter de Graciliano.
Ou com a falta de. Como pode um homem construir uma obra tão importante como a que ele construiu, autor que foi de "Vidas Secas", "Angústia" e "Memórias do Cárcere", intelectual de peso no país, influente, inteligente, como pode um personagem desse quilate ser de tal forma eivado de maldade e preconceito?
Quase duvidava do testemunho de Lêdo Ivo, até que pensei em certos personagens do futebol. São vitoriosos na mesma medida em que são canalhas.
Há tantos assim que quase parece ser a canalhice uma condição para se conquistar a vitória. Mas, felizmente, não é desse jeito que funciona. O sucesso pode vir lado a lado com o bom caráter. Pena que nem sempre. Pena que, no futebol, quase nunca.
O oitavo Rei de Roma
Temos duas tevês de tela plana, aqui na Editoria de Esportes. Duas tevezonas, dezenas de polegadas, um luxo. Ontem à tarde, numa delas corria o jogo do Roma, noutra o do Borussia. Então, chegou Paulo Roberto Falcão pisando macio dentro de seus sapatos milaneses e, vendo a maioria da Editoria de frente para a tevê em que se esfalfavam os jogadores do Borussia, reclamou:
- Pô, de costas para o meu Roma!
De pronto, o Mario Marcos premeu o botão da ESPM Brasil no controle remoto e o jogo do Roma reluziu nos dois aparelhos.
Falcão estava sendo espontâneo, estava sendo autêntico, quando protestou em favor do seu Roma. O que prova a grande verdade: que o grande profissional tem de ser, antes de tudo, um grande amador.
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