quarta-feira, 23 de janeiro de 2008


CLÓVIS ROSSI

É melhor jogar os búzios

DAVOS - A portentosa consultoria PricewaterhouseCoopers, presente em 149 países, apresenta, todo ano, sua pesquisa com executivos de uns 50 países na véspera da abertura do encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

Nos últimos anos, a pesquisa era uma catarata de otimismo, reflexo do formidável ciclo de crescimento econômico no mundo todo.

Ontem deveria ser diferente, já que o otimismo, pelo menos no mundo rico, desabou. Mas Samuel DiPiazza, executivo-chefe global da empresa, conta, brincando, que mandou abrir um champanhe antes de apresentar o levantamento para festejar o corte de 0,75 ponto percentual na taxa norte-americana de juros. Em tese, seria a salvação da lavoura (ou dos mercados, mais exatamente).
Pode ter gastado dinheiro à toa.

Chega a ser inacreditável a incompetência disseminada do empresariado e de seus gurus na academia e nas firmas financeiras para acertar o que vai acontecer nos meses seguintes ou até no mês seguinte.

O exemplo mais óbvio está nas próprias pesquisas da PwC. No ano passado, havia a tal catarata de otimismo, na pesquisa divulgada em janeiro.

Oito meses depois, vinha à tona a crise das hipotecas, que nenhum executivo no mundo todo previra. É bom frisar que a crise veio à tona em agosto de 2007, o que significa que, abaixo da superfície, já latejava havia sei lá quanto tempo. E ninguém viu ou ao menos ninguém contou ao público.

Mais tarde (maio), o clubão dos países ricos (a OCDE) previa para os EUA crescimento de 2,5% em 2008 (reduzido para 2% em julho).

O FMI, em abril, chutava 2,8% como índice de crescimento norte-americano em 2008. Se crescer zero alguma coisa já estará de bom tamanho.

Desconfio que, se a gente trocar esses adivinhos por um competente jogador de búzios, ganharemos todos.

crossi@uol.com.br

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