quinta-feira, 17 de janeiro de 2008



17 de janeiro de 2008
N° 15482 - Luiz Pilla Vares


A velha Simone

Na semana passada, jornais do mundo inteiro deram destaque a Simone de Beauvoir, que, se viva fosse, estaria completando cem anos. Nada mais justo: a companheira de toda a vida de Jean-Paul Sartre influenciou toda uma geração, especialmente as mulheres da segunda metade do século 20. Com efeito, seu livro monumental

O Segundo Sexo transformou radicalmente a consciência de centenas e centenas de mulheres através do mundo e proporcionou uma consistência teórica ao movimento feminista que até então era desconexo e frágil teoricamente, aliás como todo novo movimento.

O Segundo Sexo foi, portanto, uma verdadeira revolução intelectual que teve imediatas conseqüências práticas, que mudaram os costumes que começavam a ser abalados no imediato pós-guerra.

Nada mais justo, portanto, que se dê o devido destaque ao papel histórico de primeira linha representado por Simone de Beauvoir no movimento feminista mundial. A imprensa também destacou suas qualidades como romancista - A Convidada e Os Mandarins, este último ganhador do respeitado Prêmio Goncourt.

Na verdade, Simone foi uma excelente escritora: suas notáveis Memórias, formadas por vários volumes, constituem uma admirável e apaixonante reconstrução da vida e do ambiente intelectual da França durante grande parte do século passado.

Mas um aspecto extremamente importante e decisivo da vida da pensadora francesa foi negligenciado, obscurecido e, em alguns casos, incompreensivelmente simplesmente omitido.

Trata-se de seu engajamento radical nas posições políticas da esquerda. Ela se envolveu em todas as lutas da esquerda, seja através de escritos, seja pela presença física.

Apoiou decididamente as lutas pela independência da Argélia e a revolução socialista cubana. Juntamente com Sartre e outras personalidades do mundo intelectual foi uma das vozes mais firmes contra a guerra desencadeada pelos Estados Unidos no Vietnã e sempre lutou pela paz entre árabes e judeus no Oriente Médio.

Seus ensaios especificamente políticos não tinham a complexidade dos de Sartre, mas, mesmo assim, não foram destituídos de um certo brilho, como O Existencialismo e a Sabedoria das Nações ou Merleau-Ponty e o Anti-Sartrismo, sobre a polêmica entre os dois grandes pensadores franceses acerca do marxismo.

Seu livro O Pensamento Político da Direita teve grande repercussão na juventude esquerdista de início dos anos 1960 e pode ser lido com prazer até nos dias atuais.

Grande Simone, velha de guerra.

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