segunda-feira, 28 de janeiro de 2008


RUY CASTRO

O mundo roda

RIO DE JANEIRO - No Brasil é assim. Um festival de jazz, que, por menos jazz que ofereça, é um evento quase que só para adultos, não pode ser patrocinado por uma marca de cigarros -no caso, o Free Jazz e os cigarros idem.

Mas uma roda gigante, como a armada no Forte de Copacabana, aqui no Rio, de apelo basicamente infantil e adolescente, pode ser patrocinada por uma marca de cerveja.

Foi louvável o esforço do então ministro da Saúde, o hoje governador José Serra, de tentar proteger os fãs de jazz -pessoas por tradição marginais, boêmias, não conformistas- dos terríveis males dos cigarros Free.

Lembro-me de que vários desses jazzistas apoiaram com entusiasmo a medida de Serra, enquanto acendiam seus baseados na platéia do ex-Free Jazz carioca.

Claro que a censura antitabagista não visou apenas a um simples festival de jazz, mas à propaganda de cigarros como um todo, nos rádios, TVs, outdoors e, até hoje, onde a vista consiga alcançar. Igual medida, no entanto, ainda não foi tomada quanto à cerveja entre as bebidas alcoólicas.

Nesse governo farto em medidas provisórias, soou estranho que o presidente Lula preferisse mandar sua recente "restrição" à propaganda de cervejas na forma de um tíbio projeto de lei.

Significa que, como terá agora de ser votada pelo Congresso, essa restrição será chutada para as calendas. E que Zeca Pagodinho pode aspirar ao cargo do ministro Temporão.

De duas semanas para cá, as crianças cariocas, expostas aos enormes outdoors da cerveja -digo, da roda gigante- espalhados pela cidade, ficam autorizadas a acreditar que há uma relação mágica entre a beberagem que desce redondo e a visão da praia mais bonita do mundo numa gôndola a 36 m de altura. Ambos, a cerveja e a roda, deixam a criança alta.

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