sexta-feira, 25 de janeiro de 2008



O QUE SE FAZ EM DAVOS?

Já está acontecendo o encontro anual dos milionários globalizados na Suíça. O pessoal gosta de lá por ser um lugar alto (é gente acostumada a estar por cima) e um país neutro.

Não incomoda ninguém. Dinheiro não tem ideologia. Além disso, nas horas vagas, dá para conferir as contas e ter contato presencial com o dinheiro.

Nesta época de especulação financeira, de operações virtuais, de paraísos fiscais e de bolhas econômicas, os megainvestidores sentem necessidade de um contato direto com a grana que guardam no exterior.

É compreensível. A saudade é grande. No fundo, todo investidor é um romântico que gosta de pôr o seu amor no colo. Eu tenho pena desses ricos que passam a vida longe do que possuem.

O jornal Le Monde publicou recentemente um artigo com um título sensacional e intrigante: 'Entenda o que a elite mundial faz todos os anos em Davos'. Vocês não sabem? Eu sei. Mas não posso dizer. É impróprio para um jornal familiar. Não adianta insistir.

Não digo. Nem sob tortura. Não compactuo com linguagem de baixo calão. Aceito candidamente o que essa turma divulga para justificar a reunião: encontrar soluções para os maiores problemas do mundo. Eles se reúnem para nos fo... fornecer saídas exeqüíveis. Tem algo, porém, que não está funcionado.

Afinal, o Fórum de Davos chega aos 38 anos e os problemas só parecem aumentar. A atual crise das Bolsas é apenas um sinal disso. Já tem gente querendo mudar o nome de Davos para Devos. Muito. Só quem pode dever muito tem cadeira cativa em Davos. Of course!

A história do encontro anual de Davos é bastante curiosa. Foi idéia de um estudante, que se inspirou no livro de um francês liberal. Achar um liberal francês é quase tão raro quanto localizar um liberal brasileiro que não goste de mamar nas tetinhas do Estado.

Como sempre, os americanos e os asiáticos acabaram dominando o pedaço. Hoje, o Fórum de Davos é uma ONG. Por essa vocês não esperavam, não é? Uma ONG de bilionários.

É que assim talvez eles possam abater no Imposto de Renda o dinheirinho que gastam nesta semana de reflexão. Achavam que ONG era coisa de pobre ou de rico com problema de consciência? Na Suíça, os integrantes dessa ONG de bacanas se encontram para especular.

Estão acostumados. Querem apenas treinar em conjunto. A especulação é total e estimulada. No sentido filosófico desse termo. Alguns estão lá patinando. No gelo. Mas com pose de velocistas.

Há quem tenha opinião formada sobre Davos: é fria. Bastaria ver como os participantes tremem quando aparece gente para reclamar. Puro preconceito.

Eles se beneficiam do aquecimento global. Quer dizer, central. Outra hipótese sobre as motivações dessa reunião anual de bilionários preocupados com o destino da humanidade em Davos é desconcertante: eles iriam até lá para comer fondue e jogar bingo.

Faz sentido. Em Davos, grosseiramente falando, encontram-se dois tipos de investidores: aqueles que se preocupam com a Bolsa e aqueles que se preocupam com o bolso. Há, naturalmente, uma perfeita interação entre essas duas categorias.

As madames são pluralistas e interessam-se mais pelas bolsas. Houve uma senhora muito distinta que decidiu comprar a (não uma) Vuitton.

Questão de praticidade e de conforto pessoal. O marido teria objetado: as bolsas estão em baixa. A resposta dela foi impecável: bolsas nunca saem de moda. A moda é que sai das bolsas.

juremir@correiodopovo.com.br

Ótima sexta-feira e um excelente fim de semana.

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