terça-feira, 29 de janeiro de 2008



29 de janeiro de 2008
N° 15494 - Cláudio Moreno


Povos diferentes

Em dois milênios e meio, pouca coisa mudou entre o homem e a mulher. Heródoto conta daquelas Amazonas que os gregos derrotaram e tentaram levar para a Grécia.

No trajeto, elas se amotinaram e jogaram a tripulação ao mar; porém, como não sabiam manejar o navio, ficaram à deriva, ao sabor do vento, até que a correnteza as levou às praias da selvagem Cítia. Ali elas se apropriaram de uma manada de cavalos e começaram a pilhar o interior do país.

A princípio, os citas ficaram perplexos: não sabiam que guerreiros eram aqueles, pois não reconheciam sua fala ou sua maneira de vestir; contudo, após o primeiro confronto, ao examinar um cadáver e perceber que não eram homens, decidiram que valia a pena ter filhos com essas valorosas guerreiras.

Para isso, mandaram que os solteiros fossem acampar perto delas e as observassem em tudo, sem jamais hostilizá-las. Assim foi feito; quando elas atacavam, eles recuavam, sem entrar em luta, para convencê-las de sua intenção pacífica.

Admirando-os por isso, e impressionadas com o valor e o denodo que eles tinham demonstrado no combate, elas deixaram os jovens citas ficar onde estavam. Sendo homens e mulheres, não preciso dizer que a distância entre os dois acampamentos ia ficando menor a cada novo dia...

No final das manhãs, elas passaram a se afastar, sozinhas ou em pares, a fim de cumprir o que a natureza manda; os citas fizeram o mesmo.

Quando um deles encontrou-se com uma delas, junto ao rio, o inevitável ocorreu, para alegria de ambos. Depois - mas que coisa mais antiga! - ela avisou, por meio de sinais, que no dia seguinte viria com uma amiga, e que ele assim o fizesse. Em pouco tempo, todos formavam casais; o passo seguinte - quem diria! - foi unir os acampamentos, passando a morar juntos.

Os homens (como, aliás, até hoje) não conseguiram aprender a língua das mulheres, mas estas, ao contrário, captavam muita coisa da linguagem deles, e assim iam se entendendo.

Quando eles propuseram que fossem morar com seu povo, elas recusaram: "Gostamos de cavalgar e de caçar livremente; jamais viveremos como as mulheres citas, que passam seus dias ocupadas com afazeres domésticos. Se querem ficar conosco, vamos nós, todos juntos, achar um lugar para começar vida nova".

Os jovens concordaram, e todos levantaram acampamento e viajaram muito longe, para o norte, onde se tornaram a tribo dos Sauromatas, cujas mulheres nunca deixaram de cavalgar e lutar ao lado de seus homens, provando que o segredo da harmonia entre os sexos é o gosto por essa estranheza recíproca e a aceitação de que existe uma ignorância entre eles que nunca será superada, pois são povos diferentes.

(Coluna publicada em 12/10/2004)

Nenhum comentário: