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sábado, 26 de janeiro de 2008
CLÓVIS ROSSI
A nova caixa de Pandora
DAVOS - Cansei de escrever neste espaço que a predominância do capitalismo financeiro nesta etapa da aventura humana havia se transformado em um cassino.
Errei. Ou melhor, não disse tudo. O episódio do "gênio da fraude", como está sendo chamado Jérôme Kerviel, que deu um tombo de impressionantes 5 bilhões no Société Générale, mostra que há no jogo uma caixa de Pandora.
Está composta pelas sucessivas camadas de apostas nos chamados derivativos. Jérôme, em vez de abrir a caixa de Pandora, foi tentando fechá-la, fechá-la, para encobrir suas apostas equivocadas. Não adiantou. Acabou liberando de qualquer forma os demônios.
É óbvio, como ensinou ontem o cada vez mais imperdível Vinicius Torres Freire, que é uma bobagem culpar Jérôme pela gangorra alucinada em que se transformaram as Bolsas no mundo todo.
Mas o jornal genebrino "Le Temps", em seu editorial de capa de ontem, diz que, em ambos os casos, são "desconcertantes a amplidão dos riscos e as dificuldades de prevenir as catástrofes decorrentes" (da fraude e da crise financeira provocada pelo estouro da bolha no mercado de imóveis).
Diga-se que o "desconcerto" (palavra que, para o meu gosto, fica bem aquém do sentimento que se nota entre o público de Davos) é compartilhado pelas mais altas autoridades da governança global.
A ponto de o primeiro-ministro Gordon Brown ver "tempos de teste" até para a globalização, um fenômeno que parece irreversível.
Afinal, a interligação dos mercados, uma das características da globalização, faz com que "riscos, dificuldades e catástrofes", citados por "Le Temps", se transmitam rapidamente de uns a outros.
Suspeito que a globalização sobreviverá ao teste antevisto por Brown. Mas um certo número de habitantes do globo enlouquecido não terá tanta sorte.
crossi@uol.com.br
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