quinta-feira, 17 de janeiro de 2008



Nem racionalismo, nem esoterismo

Livros de auto-ajuda e esoterismo seguem vendendo muito bem, atendendo à demanda crônica e secular de milhões de pessoas que perderam a crença na religião, na ciência, nos valores e nos líderes tradicionais.

Nesses tempos de busca por segredos, caminhos reveladores e soluções individuais para tudo, o rabino, escritor, engenheiro e doutor em literatura Nilton Bonder, reconhecido internacionalmente e autor do best-seller A alma imoral, apresentou o livro O sagrado.

A alma imoral foi adaptado com sucesso para o teatro por Clarice Niskier, que recebeu prêmio por sua atuação.

Em O sagrado, Bonder reflete sobre as crenças popularizadas pelos livros de auto-ajuda no sentido de que as pessoas possuem a chave para desvendar o mistério da vida e alcançar a plenitude aqui e agora.

Para o rabino, ao invés do consumismo desenfreado e do individualismo que reinam por aí, o homem deveria dedicar-se ao sagrado.

O autor critica fortemente a busca incessante pela satisfação do desejo que leva as pessoas, segundo ele, à "religião dos indivíduos" e ao excessivo amor às dádivas e conquistas.

Para quem acredita totalmente no individualismo, Bonder lembra a fragilidade e as limitações dos seres humanos e ensina que pensar que somos o centro do universo só nos fez intolerantes e ignorantes no passado.

Para ele, o verdadeiro segredo é o "oculto do oculto", ou o sagrado, justamente aquilo que a obviedade não permite enxergar e que não pode ser adquirido como um simples produto, disponível numa prateleira de supermercado.

Para alcançar o sagrado, as pessoas devem se libertar do que o autor chama de "tirania do ego", do culto ao indivíduo, e abrir espaço para o outro - a família, os amigos, a comunidade - em sua vida.

Longe do racionalismo que pretende o entendimento e do esoterismo que pretende a evocação, o sagrado acolhe a incerteza, fortalecendo as escolhas, abarcando o vazio e levando à sabedoria, à simplicidade e ao que é verdadeiramente rico. Bonder diz: "Não somos um fim, somos um meio pelo qual se dá um projeto muito além de nossa biografia individual.

E isso não é má notícia. Ser parte e não integralidade nos aproxima da realidade e possibilita a experiência do sagrado - de ser especial não como algo isolado, independente, mas inserido na Árvore da Vida".

Enfim, opiniões em contrário à parte, numa época de vaidades gigantescas, competições acirradas, carência de valores, falta de líderes e idéias consistentes, a obra de Bonder vem para nos ajudar a tentar uma espécie de terceira via milenar: o sagrado.

Não é pouca coisa. O sagrado pode ser o caminho para o verdadeiro resgate da auto-estima, para o respeito com a ancestralidade e para um novo jeito de passar pelo planeta. 128 páginas, R$ 19,00. Editora Rocco, telefone 3525 2000.

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