quinta-feira, 31 de janeiro de 2008



31 de janeiro de 2008
N° 15496 - Paulo Sant'ana


Luz infinda dos poetas

Ah, meus poetas portugueses e brasileiros que me formaram em letras quando eu era apenas um adolescente.

Ler-vos já valia por um curso de gramática e de filosofia. E eu me embebedando nos vossos versos, decorando as mais belas páginas de poesia romântica e lírica dos que manejavam a flor do Lácio, que nunca mais se encontraria depois de vós e de Vieira.

Acabei de recitar para o Olyr Zavaschi, aqui na sala em que me encontro, alguns poucos dos mais belos e definitivos quartetos ou tercetos de nossa língua.

Entre eles, estas eternas tábuas de verdade da autoria do grande Vicente de Carvalho, só elas bastariam para explicar toda a perplexidade humana:

(...)

Essa felicidade que supomos

Árvore milagrosa que sonhamos

Toda arriada de dourados pomos

Existe, sim, mas nós não a encontramos

Porque está sempre apenas onde a pomos

Mas é que nunca a pomos onde estamos.

Ou quando Olavo Bilac, tendo sido abandonado pela noiva por estar tuberculoso, tendo ela imediatamente se casado com um capitão da Marinha de Guerra, 20 anos depois encontrou-a de mãos dadas numa solenidade com o esposo, já então almirante.

E, diante de centenas de convidados, Bilac recitou com voz enérgica e embargada:

Se por vinte anos, nesta furna escura,

Deixei dormir a minha maldição,

Hoje, velha e cansada da amargura,

Minhalma se abrirá como um vulcão.

E em torrentes de cólera e loucura,

Sobre a tua cabeça ferverão

Vinte anos de silêncio e de tortura,

Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!

Pelo mal que fizeste sem querer!

Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!

Pela tristeza do que eu tenho sido!

Pelo esplendor do que deixei de ser!

A senhora deixou-se cair desmaiada nos braços do almirante.

Ou como quando o pernambucano Maciel Monteiro fez elogio insuperável à beleza de uma mulher que conhecera e desejava conquistar:

Formosa, qual pincel em tela fina

Debuxar jamais pôde ou

nunca ousara; Formosa, qual jamais

desabrochara

Na primavera a rosa purpurina;

(...)

Formosa, qual se a natureza e a arte,

Dando as mãos em seus dons, em seus lavores

Jamais soube imitar no todo ou parte;

Mulher celeste, oh! anjo de primores!

Quem pode ver-te, sem querer amar-te?

Quem pode amar-te, sem

morrer de amores?

(Crônica publicada em 01/02/05)

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