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sábado, 26 de janeiro de 2008
27 de janeiro de 2008
N° 15492 - Paulo Sant'ana
Débitos e créditos
Eu queria passar para os meus leitores o que pode se considerar uma regra de comportamento - ou se quiserem um truque - para ser feliz.
Esse estratagema tem-me auxiliado profundamente nos últimos meses na luta da vida.
É simples, mas é daqueles óbvios que se oferecem para a gente e nós não percebemos a oferta ou não a aproveitamos.
A felicidade é um estado de espírito. Ou você se considera feliz ou você não se considera feliz. Aliás, muitas vezes é mais importante considerar-se feliz do que ser feliz.
É preciso sempre colher-se o momento que passa, porque não há vida mais desperdiçada do que aquela definida no samba antológico de Ataulfo Alves, que contém um verso definitivo: "Eu era feliz e não sabia". Isso é trágico.
É preciso saber-se que se é feliz.
É preciso encarar a vida como uma conta no banco. A conta tem créditos e débitos. A vida tem prazeres e tormentos.
O segredo está em administrar a conta do banco, de tal sorte que há que se ter contentamento tanto quando saem os débitos quanto quando entram os créditos. O vital é manter-se a conta, tendo em vista que os débitos são necessários para conquistarem-se os créditos.
É fundamental conhecer-se que a vida tanto dá quanto cobra. É difícil, mas cumpre ter-se prazer e festejar quando sai o débito, não só quando entra o crédito.
O que importa é que a conta mantenha-se aberta, isto é que a vida continue estuante. Até mesmo porque é imperioso que se racionalize, se se quiser ser feliz, que a vida não pode ser só constituída de benesses, mas inevitavelmente também de adversidades.
Eu não estou querendo que os meus leitores atinjam a perfeição existencial dos sábios, que sentem prazer no sofrimento. Como dizia o meu poeta sábio preferido, Augusto dos Anjos:
"Bati nas pedras de um tormento rude/ e a minha mágoa de hoje é tão intensa/ que eu penso que a alegria é uma doença/ e a tristeza é a minha única saúde". Seria exigir demais. Mas a minha verdade roça por aí.
É preciso que a tristeza, a preocupação, os problemas todos, até mesmo o drama, nos encontrem mobilizados para a vida e para a felicidade.
Nós só seremos capacitados para a alegria, o contentamento interior e a felicidade se soubermos suportar com galhardia, ou até mesmo com prazer, todas as contrariedades. Isto consiste em compreender como naturais e absolutamente concernentes à vida todos os percalços que constituem o sofrimento.
Eu não estou dizendo novidades. Milhões de pessoas admiráveis ostentam no rosto e nos gestos uma luminosa alegria, embora seu íntimo se corroa de tristezas. Estas são as que entenderam a vida e que erguem o mundo.
Eu estou só tentando encorajar a serem felizes e otimistas as pessoas que como eu se deixaram ou se deixam abater pelos obstáculos, fracassos ou até mesmo desgraças, sem perceberem que isso é também constante na vida e na conta do banco, absolutamente necessário para que se possa curtir agora ou vir a obter logo em seguida aquilo que mais se almeja: a felicidade.
Em suma, a vida, em todo o dia que se acorda de manhã, tem que nos apanhar mobilizados para a felicidade. E quando aparecer a infelicidade, a gente tem de gritar impávido para ela: "Não vem, que não tem".
Tomara que me tenham entendido.
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