quarta-feira, 9 de janeiro de 2008



CLÓVIS ROSSI

Saudades do mensalão

SÃO PAULO - Se eu fosse do governo, relançaria um esquema tipo mensalão (se é que o modelo não continua, até que Roberto Jefferson resolva detoná-lo de novo). Parece a única maneira de conseguir soldar a base de apoio governista, que anda batendo cabeça de uma forma jamais vista antes.

Estamos assim: o vice-presidente, José Alencar, amigo do presidente, diz que é mero "remendo" a proposta de seu amigo Lula para cobrir parte do buraco deixado pela queda da CPMF. O "remendo" nem sequer foi antecipado ao rapaz que faz a coordenação política do governo, no que parece demonstrar que, como ministro, trata-se de um ótimo cantor amador.

Já o líder do governo no Senado, que, entra governo, sai governo, continua sendo governo, confessa sem ruborizar-se que o presidente faltou com a palavra empenhada ao anunciar que não haveria aumento de impostos, apenas para decretá-lo dias depois.

Claro que sempre haverá poetas capazes de dizer que mensalão é coisa feia e que o amalgama correto para a base governista (ou para a base oposicionista) deveria ser a ideologia, o programa, essas coisas com os quais os políticos enchem a boca, mas não acreditam.

De fato, deveria ser assim, mas ideologia, programa, convicções, seriedade no trato da coisa pública são produtos em absoluta falta no mercado político brasileiro (não só brasileiro, é verdade, mas lá fora o problema é deles).

A queda da CPMF é, talvez, o mais emblemático dos exemplos: foi derrubada pelos partidos que a criaram e foi defendida pelo partido que, quando era oposição, a ela se opunha ferozmente. Não foi criada nem extinta em função de ser um bom ou um mau tributo, mas em função de dar ou retirar dinheiro do governo de turno.

Se não é a mais perfeita escul- hambação, não sei mais o significado de esculhambação.

crossi@uol.com.br

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