Falhas em diques, casas de bombas e comportas da Capital
O relatório produzido por especialistas holandeses, que estiveram em Porto Alegre em junho para verificar causas da enchente e sugerir melhorias no sistema de proteção da Capital, apontou que foram detectados erros técnicos de desenho e execução nos diques da Capital, falhas nas estações de bombeamento e nas comportas e fragilidade no complexo de defesa da metrópole.
O documento foi apresentado ontem em evento no Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). O repórter Vitor Netto acompanhou a apresentação do diagnóstico.
Conforme o relatório, foram detectados erros técnicos dos diques, principalmente na Zona Norte. Os diques foram construídos pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) em 1970. Segundo o relatório, alguns pontos dos diques da Capital deveriam ter seis metros e alcançam apenas 4m50cm.
É importante descobrir os dados reais das coisas. Uma conclusão do desastre é de que o desenho do sistema foi feito para um certo nível de enchente, e foi muito maior - disse Ben Lamoree, conselheiro institucional da Agência Empresarial Holandesa e chefe da missão na capital gaúcha.
Sobre as estações de bombeamento (na enchente de maio 20 das 23 falharam), foram constatados erros técnicos na localização. As estruturas, conforme os especialistas, estão em um nível baixo e esse seria o motivo da falha no sistema, necessitando que estivessem a uma altura acima da cota de proteção dos diques. Os holandeses também apontaram que as comportas da Capital falharam ou estavam ausentes.
- Podemos observar aproximadamente 20 pontos de fragilidades que entraram água em Porto Alegre. Achamos que estávamos protegidos e nunca estivemos para esse nível de chuva (de maio) - disse o diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss.
Entre as recomendações, os pesquisadores sugeriram a garantia da disponibilidade de capacidade de bombeamento temporário para emergências, além do monitoramento de curto prazo do sistema de diques.
No conjunto, ainda apontaram soluções para aumentar a infraestrutura de proteção contra inundações e para reduzir os níveis máximos de inundação ao redor de Porto Alegre.
Conforme o grupo, "medidas não estruturais são essenciais, como a adaptação da governança institucional multinível de proteção contra inundações". Também foi apontada a necessidade de se criar alertas precoces e assertivos para a população em casos de emergência.
A comitiva é formada por especialistas do programa de Redução de Risco de Desastres (Disaster Risk Reduction - DRRS), vinculado à Agência Empresarial Holandesa. Não houve custo para a prefeitura. As ações são coordenadas pela Rede Diplomática e Econômica Holandesa no Brasil, por meio da Embaixada, do Consulado Geral de SP e do Escritório Holandês de Negócios na Região Sul do Brasil (NBSO Porto Alegre). _
Delta metropolitano
Depois do diagnóstico divulgado ontem sobre as falhas no sistema de proteção de Porto Alegre, o mesmo grupo de especialistas holandeses apresentará nos próximos dias, provavelmente na quinta-feira, um documento sobre o complexo de defesa contra enchentes de todo o chamado Delta Metropolitano.
Esse é um trabalho macro, que envolve a defesa de municípios como Canoas, São Leopoldo, Cachoeirinha e Gravataí, por exemplo.
A divulgação do segundo documento, que servirá como livro de cabeceira para o governo do Estado implementar um plano de proteção contra cheias, ocorrerá depois da Conferência de cocriação e compartilhamento de conhecimento Brasil-Países Baixos (o nome oficial da Holanda), que será aberta hoje pelo governador Eduardo Leite e pelo embaixador holandês André Driessen.
O evento será realizado no Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) até quinta. Entre as participantes dos workshops está Taneha Bacchin, arquiteta e pesquisadora gaúcha radicada na Holanda, professora associada do programa Urban Design and Critical Theory, da Universidade de Deltf, perto de Haia. _
Espaço para o rio
Uma das ideias analisadas no escopo estadual envolve um programa semelhante ao Room for the River (Espaço para o Rio), construído na Holanda a partir de 2007. Em mais de 30 locais, foram tomadas medidas para dar espaço ao rio, promovendo uma inundação segura.
O principal objetivo foi gerir níveis mais elevados de água - realocando diques, aumentando a profundidade dos canais e construindo desvios de inundação de quatro rios: Reno, Mosa, Waal e IJssel.
Previsão de chuva
Questionado durante a apresentação do relatório sobre a atual proteção contra cheia e a chance de chuvas mais intensas no mês de setembro, como vista no ano passado, o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, disse que a previsão é de que a precipitação não seja tão intensa.
- Sempre consultamos a Sala de Situação do governo do Estado e não há previsão para chuva acima da média para agosto ou para setembro. O que nos tranquiliza - diz.
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