Imperadores de Roma e governantes de hoje
imperador de roma
EDITORA CRÍTICA/DIVULGAÇÃO/JC
Para entender o presente, é bom estudar o passado. Para compreender os atuais governantes, é fundamental conhecer os séculos do Império Romano.
Imperador de Roma (Crítica, 480 páginas, R$ 100,00), de Mary Beard, professora da Universidade de Cambridge e autora dos best-sellers SPQR e Mulheres e poder, traz 30 imperadores e 250 anos do Império que marcou a história mundial.
Fruto de décadas de pesquisas e leituras, a monumental obra de Mary Beard tem o mérito de fugir de estereótipos e divisões fáceis, que costumam colocar os imperadores como bons ou maus. A autora diferencia-se por criticar esta polarização , muito comum até na produção acadêmica.
Mary utiliza a figura do imperador como uma lupa para escrutinar os mais diversos aspectos da sociedade romana, desde a cultura aristocrática dos banquetes até as formas de comunicação entre o imperador e seus súditos no Império, nos suntuosos palácios na Itália onde viviam até os setores subalternos que garantiam seu funcionamento.
Muito além de dados cronológicos, a obra traz as bases sociais e políticas que permitiram a existência e a ação dos imperadores entre os séculos I a. C e III d. C. Que poder os imperadores realmente tinham? O palácio estava tão manchado de sangue? Mary estudou durante trinta anos o que significava ser soberano, as tensões do poder e desmente inúmeras suposições que, até há pouco, eram tidas como verdades.
Disse Mary: "Já enfatizei muitas vezes que a Roma antiga tem poucas lições a nos ensinar, no sentido de não podermos recorrer a ela em busca de soluções prontas para nossos problemas. Os romanos não vão, e nem podem, nos dar as respostas. No entanto, explorar o mundo deles nos ajuda a enxergar o nosso de maneira diferente. Enquanto escrevia Imperador de Roma, refleti muito sobre essa visão da autocracia como fundamentalmente uma farsa, uma fraude, um espelho distorcido. Isso me ajudou a entender melhor a cultura política da Roma antiga - e também abriu meus olhos para a política do mundo moderno."
Lançamentos
O homem marcado (Faro Editorial, 160 páginas, R$ 44,90), dos consagrados jornalistas e escritores John Florio e Ouisie Shapiro, é baseado na história real de Frank Serpico, policial honesto que denunciou a corrupção da polícia de Nova York e foi marcado para morrer. A obra embasou o filme Serpico, com o célebre Al Pacino.
Luís da Câmara Cascudo - Melhores Crônicas (Global Editora, 104 páginas, R$ 65,00), com seleção e prefácio de Humberto Hermenegildo de Araújo, traz textos do consagrado folclorista e autor do Dicionário de Folclore Brasileiro. Versatilidade e olhar perspicaz sobre a cultura e a sociedade brasileiras marcam as crônicas bem elaboradas.
Passos no labirinto (Calypso, 88 páginas), 26º livro da premiada escritora e jornalista Susana Vernieri, traz uma jovem que descobre sexualidade e fragilidades no Caminho Inca, no Peru. A narrativa madura e pungente resultou do pós-doutorado em Escrita Criativa na Pucrs. Lançamento 30/8, 17h, Clube de Cultura, Ramiro Barcelos 1.853.
Silvio Santos e a máquina de fazer doido
O saudoso cronista Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sergio Porto, 1923-1968) escreveu que a televisão era uma máquina de fazer doido; que na televisão brasileira é assim: o sujeito que não sabe fazer nada acaba sempre diretor; que quem assiste televisão durante a semana é incapaz de desconfiar que, aos domingos, é pior e nada é mais educativo na nossa televisão que o botão de desligar. Stanislaw criticou Silvio Santos por achar que ele se beneficiava da burrice e da infelicidade humana para ficar milionário.
Claro que o humor e a crítica de Stanislaw foram anteriores ao desenvolvimento da programação da TV, do "padrão Globo de qualidade", das novelas que, antigamente, eram mais apreciadas do que hoje. As novelas se tornaram uma espécie de videoteratura, com obras antológicas como Roque Santeiro de Dias Gomes.
Embora o SBT, num determinado momento, tenha passado a desenvolver o telejornalismo, Silvio Santos sempre pensou a TV como entretenimento e entendia que educação e cultura eram tarefas para o governo, as escolas e outras instituições. É interessante a Globo dedicar espaço, elogios e carinho para Silvio Santos. Silvio merece elogios, claro, proporcionou muita coisa boa para nossa sofrida população e empregos e sobrevivência para muitos.
É claro que é cedo ainda para analisar todos os aspectos do fenômeno Silvio Santos e a complexidade das ligações sociais, políticas e financeiras de seu império. A pátina do tempo ainda não caiu de todo e o momento é de lembrar das coisas boas e de coisas engraçadas. Nosso saudoso Carlos Nobre brincava dizendo que camelô não podia trabalhar na rua, só na televisão.
Tenho 70 anos, sou anterior ao Silvio Santos em termos de TV. Comecei a assistir TV lá por 1962. Gostava de assistir Nacional Kid, Patrulheiros Toddy, Alô Doçura, Agarre o que puder (com Renato Cardoso), a novela do Dr. Valcourt, Jovem Guarda e muita coisa mais. Minha geração 'hippie' foi bastante crítica em relação aos primeiros anos da TV, e hoje é preciso reconhecer os avanços de programação cultural e educacional em termos de TVs públicas e privadas.
Quando bem utilizada e com fins saudáveis, a televisão é um excelente veículo de comunicação e deve, a meu ver, mesclar entretenimento com cultura e educação. Silvio, Chacrinha, concertos, música, filmes e muito mais cabem na telinha, que ao invés de ser uma antiga máquina de fazer doidos, hoje é mais uma máquina de fazer dinheiro ou uma simpática máquina de fazer malucos-beleza.
Antigamente, os pais tentavam limitar as horas de TV diárias para os filhos. Atualmente, os pais tentam limitar as horas de uso de celulares, iPads, notebooks e outros equipamentos. O livro impresso, o cinema de telão, o teatro e outras manifestações devem ser prestigiadas. Eles tocam de modo particular e incomparável a sensibilidade e a inteligência de crianças, jovens e adultos.
A propósito
Especialmente num ano eleitoral, é razoável e justo que os telespectadores tenham, ao menos, a esperança de que sua inteligência e sua sensibilidade sejam bem tratadas pelas redes de comunicação e, em particular, pelas redes de TV. O povo não é bobo e o botões de desligar ou mudar de canal estão aí para servir às consciências e as paciências. Os donos de redes de comunicação que se liguem e prestem atenção na audiência. Como disse o Silvio Santos, sem bilheteria não tem circo. Melhor programação e bilheteria civilizados, sem maiores manipulações.(Jaime Cimenti)
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