sexta-feira, 16 de agosto de 2024


16 de Agosto de 2024
LITERATURA - William Mansque

LITERATURA

Faraco - O patrono da Feira da retomada

Um dos mais aclamados escritores do Estado, Sergio Faraco, 84 anos, enfim é o patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. A 70ª edição do evento, que será realizada de 1º a 20 de novembro, tem 176 atividades e 20 oficinas já confirmadas e mais de 90% da programação valorizando nomes gaúchos

- Hoje é um dia feliz para nós todos. Quem diria que estaríamos aqui, às vésperas de uma Feira do Livro, depois de tudo o que aconteceu no nosso Estado.

Assim Sergio Faraco comemorou o anúncio de seu nome como patrono da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre, a ser realizada entre 1º e 20 de novembro na Praça da Alfândega. O escritor alegretense de 84 anos, autor de uma obra extensa e variada, sucede Tabajara Ruas no posto.

- Espero que a Feira seja um sucesso e que possa atenuar as perdas que tiveram nossos livreiros e editores no primeiro semestre do ano. Como patrono, apesar da minha discrição e do meu comedimento, que eu possa contribuir de algum modo para que esse êxito aconteça - afirmou o patrono.

A Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), responsável pelo evento, estima que a 70ª edição da Feira marque a retomada do setor livreiro, que foi fortemente impactado pela enchente que atingiu o Estado em maio. Já estão agendados 176 eventos e 20 oficinas, sendo que 91% da programação deve envolver nomes gaúchos, segundo a CRL.

Neste ano, o evento deverá ser realizado em quatro locais para além das bancas propriamente ditas: três salas no Espaço Força e Luz e o Teatro Carlos Urbim - tenda montada no centro da praça. Entre os nomes já confirmados que virão à Feira estão Ruy Castro, Heloísa Seixas, Bela Gil e Rita Von Hunty. Mais detalhes da programação serão divulgados nas próximas semanas.

O mestre da narrativa curta

Sergio Faraco começou a se aproximar da escrita quando estava no serviço militar, nos períodos de reclusão - momentos em que lia livros, escrevia cartas e engendrava o que seriam seus primeiros textos. Entre 1963 e 1965, viveu na União Soviética e cursou Ciências Sociais em Moscou. Posteriormente, no Brasil, bacharelou-se em Direito. Paralelo à escrita, ele também atuou como servidor público federal na Justiça do Trabalho.

Seus primeiros contos foram publicados nos anos 1960, no jornal Correio do Povo. Seu primeiro livro, inteiramente voltado à narrativa curta, foi publicado em 1970 e ganhou o título de Idolatria.

Faraco produziu memórias, crônicas e não ficção - que abordam temas como bilhar (Snooker: Tudo sobre a Sinuca, com Paulo Dirceu Dias, 2005), carros (O Automóvel: Prazer em Conhecê-lo, com Hugo Almeida, 2001) e até o naufrágio do Titanic (O Crepúsculo da Arrogância: RMS Titanic Minuto a Minuto, 2006). Mas se notabilizou especialmente por sua produção de contos, no que é considerado um mestre. Seus textos nesse formato costumeiramente são caracterizados pela linguagem concisa e personagens marcados por angústia, desejo e solidão, com narrativas ambientadas tanto em cenários urbanos quanto rurais.

Ao longo dos anos, o escritor acumularia prêmios. Com A Dama do Bar Nevada, obteve em 1988 o Galeão Coutinho, conferido pela União Brasileira de Escritores ao melhor volume de contos lançado no Brasil no ano anterior. A Lua com Sede recebeu o Prêmio Henrique Bertaso (de CRL, Clube dos Editores do R.G.S. e Associação Gaúcha de Escritores), como melhor livro de crônicas do ano.

O Açorianos de Literatura Faraco recebeu em três ocasiões: em 1995, com A Cidade de Perfil, na categoria crônica; em 1996, com Contos Completos, na categoria conto; e em 2001, por Rondas de Escárnio e Loucura, novamente na categoria conto. Entre várias outras distinções, destacam-se ainda o Prêmio Nacional de Ficção, em 1999, pela Academia Brasileira de Letras por Dançar Tango em Porto Alegre, apontada como a melhor obra de ficção publicada no Brasil em 1998, além da Medalha Cidade de Porto Alegre, como homenagem da prefeitura a um de seus moradores mais ilustres.

Novo livro na Praça

Seu lançamento mais recente é As Noivas Fantasmas & Outros Casos (L&PM), de 2021, em que reúne 46 crônicas. O próximo trabalho se chama Digno É o Cordeiro e deve ser publicado pela L&PM pouco antes da Feira.

Segundo o autor, o livro de memórias poderá ser considerado uma continuação de Lágrimas na Chuva e irá reproduzir as dificuldades que teve em 1965, após ter retornado da Rússia. 

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