Produtividade e população
É o trabalho das pessoas que gera riqueza em um país. Só trabalho gera valor. Uma máquina parada ou um saco de dinheiro não passam de manifestações materiais do trabalho - não necessariamente "físico", mas a atuação na transformação de insumos em produtos. Quando comparamos países, existem diferenças entre a quantidade de valor gerada por uma hora de trabalho.
Um trabalhador médio norte-americano, por exemplo, gera quatro vezes o que um trabalhador brasileiro entrega de valor no mesmo período; o português gera pelo menos o dobro. Esta é uma medida de produtividade do trabalho, ou seja, de quanto valor se obtém com a labuta. Note que não se trata de trabalhar mais tempo, mas de gerar mais valor no mesmo tempo. O Brasil é um país onde a produtividade do trabalho é baixíssima.
As explicações são diversas, indo da excessiva burocracia, que dificulta negócios, até questões pontuais como a logística atrasada que usamos por aqui. Mas, com bom grau de convicção, é possível afirmar que o principal fator que determina a baixa produtividade do brasileiro é sua carência educacional. Os dados do Ideb são evidência disso.
Os dados divulgados recentemente são dramáticos. O Ideb considera taxas de aprovação e desempenho em uma prova. Esta prova é baseada em uma escala de proficiência, ou seja, aquilo que o estudante está preparado para fazer em português e matemática. A partir dos resultados de 2023, podemos constatar que o estudante brasileiro médio não consegue, por exemplo, reconhecer visões distintas em um mesmo texto ou diferenciar fatos de opiniões em reportagens. Em matemática, este estudante médio não consegue reajustar percentualmente um valor ou determinar a probabilidade de ocorrência de um evento qualquer.
Agora, considere que o Brasil é um país que tem a maior parte do seu PIB concentrada no setor de serviços altamente dependente de trabalho. Considere, ainda, que o Brasil está envelhecendo rápido - o RS chegará no seu pico populacional daqui a dois anos! Como, então, vamos manter crescimento econômico se teremos menos pessoas e estas pessoas produzem muito pouco? _
Ely José de Mattos
Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
O caminho para a autonomia feminina
O número de mulheres empreendedoras no Brasil cresceu 21% nos últimos 10 anos. Quando o assunto é o protagonismo feminino nesta área, entretanto, os sentimentos divergem. Se afirmei que temos o acréscimo, preciso também falar dos problemas, que enxergo como desafios.
Aproveito o Agosto Lilás - momento de combate à violência contra a mulher - para reforçarmos as nossas batalhas. O ano de 2024 marca os 18 anos da criação da Lei Maria da Penha, que trouxe conquistas no que diz respeito a proteção, aplicação de justiça e ferramentas de coibição.
O mês que se encerra registrou um novo amparo para o Estado, para Porto Alegre. Tivemos a inauguração da 2ª Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre. Enquanto chefe de Polícia do Rio Grande do Sul, já havia instituído a sala das margaridas, ambiente reservado para o atendimento especializado já estabelecido nas delegacias.
E se estamos discutindo os pilares de amparo à mulher, a legislação precisa estar em pauta. Necessário recordar que o voto feminino é uma conquista que tem 92 anos. É recente. Citei o crescimento de empreendedoras - são 10,3 milhões -, mas preciso informar que equivale somente a 34,4% do empresariado nacional. É pouco.
Você sabia que 49% das empreendedoras são chefes de família? E que as donas de negócio trabalham 18% menos justamente em função desses compromissos que infelizmente não são igualitários? E a discriminação? Um quarto das empreendedoras confessam que já sofreram com ela. E se falarmos em formalização, precisamos lembrar que mais de dois terços não possuem CNPJ.
As lutas são diversas, mas o caminho é conhecido. Sou criadora da Frente Parlamentar do Empreendedorismo Feminino na Assembleia Legislativa e essas são apenas algumas das nossas batalhas. Já obtivemos vitória ao consolidar a legislação de proteção à mulher no RS, porém é necessário mais. Precisamos de capacitação, programas que foquem a equidade e também a representatividade e os devidos reconhecimentos em todos setores da sociedade. _
Delegada Nadine - Deputada estadual (PSDB)
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