24 de Agosto de 2024
OPINIÃO - Editorial
A 47ª Expointer, que começa neste final de semana no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, representa muito mais do que a tradição do agronegócio no Rio Grande do Sul e o trabalho incansável do gaúcho do campo para produzir alimentos. Simboliza, acima de tudo, o momento de reconstrução do Estado depois da maior catástrofe climática de sua história, com perda de vidas humanas, destruição da infraestrutura urbana e rural, dizimação de rebanhos, devastação de lavouras e prejuízos incalculáveis à produção agropecuária.
Por isso está sendo vista por lideranças do setor e por autoridades locais como a Expointer mais importante da história. Este rótulo de resiliência está expresso no inspirado slogan escolhido pelos organizadores e pelo governo estadual: "Superar é da nossa natureza". A frase caracteriza bem a luta diária e permanente do homem do campo no enfrentamento de adversidades climáticas e pragas para manter ativa a produção primária.
Mas nem tudo pode ser encarado sob o ângulo do romantismo: para realmente superar as dificuldades provocadas por uma estiagem prolongada seguida de uma histórica catástrofe climática, o setor agropecuário gaúcho precisa de ajuda e de recursos que ainda não estão chegando nos volumes prometidos e necessários.
Embora tenha demonstrado sensibilidade em relação à dramática situação do Estado num primeiro momento, inclusive com viagens sucessivas do presidente da República ao Rio Grande do Sul e o anúncio de várias medidas de auxílio às prefeituras, abertura de crédito e socorro aos trabalhadores, o governo federal não está cumprindo satisfatoriamente seu compromisso de prestar ajuda ao setor produtivo.
Primeiro cometeu aquele equívoco de anunciar um leilão para importação de arroz, sob o pretexto de que o preço local era demasiado - o que acabou sendo revogado em decorrência dos protestos e das suspeitas de irregularidade. Depois, passou a considerar reivindicações legítimas dos produtores, manifestadas inclusive pelos tratoraços do início do mês, como atos políticos de oposição ao governo. Trata-se, evidentemente, de uma visão excludente e equivocada.
Ainda que o recente encontro entre o governador do Estado e o presidente da República tenha atenuado o desconforto causado pelo antagonismo político e pelas promessas não cumpridas, a burocracia oficial e as desconfianças mútuas continuam dificultando a liberação e a chegada dos recursos anunciados com demasiado alarde no momento em que o Estado estava mais fragilizado. Nesse contexto, a Expointer pode ser, também, uma grande oportunidade para a reaproximação, para o diálogo transparente e para o pragmatismo.
Se "superar é da nossa natureza", o momento exige também a superação de divergências ideológicas, antipatias e hostilidades para que o setor agropecuário, responsável por mais de 40% do Produto Interno Bruto gaúcho, receba a atenção que merece e recupere sua capacidade plena de produzir e de contribuir para a reconstrução do Estado. _
Conselho Editorial
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