EDITORIAL
Diagnóstico e ações contra as cheias
De forma simultânea aos esforços de recuperação, o Rio Grande do Sul passou a ter como prioridade conceber, revisar e reforçar sistemas anticheias para evitar catástrofes semelhantes à que se abateu sobre o Estado em maio. O robustecimento das estruturas existentes está entre as tarefas centrais na Região Metropolitana e, em particular, na Capital, onde já há um complexo formado por diques, casas de bombas e comportas construído décadas atrás, mas que falhou quando foi colocado à prova.
Neste sentido, merece toda atenção o relatório produzido por especialistas holandeses apresentado na segunda-feira e que aponta as fragilidades e defeitos das estruturas de Porto Alegre. Quando o assunto é gestão da água e segurança contra inundações, nenhum país no mundo é mais capacitado do que a Holanda, onde 26% do território está abaixo do nível do mar e 59% de sua área é sujeita a alagamentos, como os ocorridos em 1953, com saldo de 1,8 mil mortos, e depois na década de 1990, com poucas vítimas fatais, mas que desabrigou centenas de milhares. A convivência com grandes cheias e as soluções encontradas para evitar perdas de vidas e prejuízos tornaram a Holanda referência global no tema.
Porto Alegre e o Estado devem aproveitar as observações e sugestões apresentadas pelos especialistas do programa de redução de risco de desastres, vinculado à Agência Empresarial Holandesa, para traçar ações de curto e longo prazos. O grupo esteve no Rio Grande do Sul no início de junho para avaliar a enchente e elaborar um diagnóstico da situação. Após revelarem as conclusões sobre a Capital, nos próximos dias os especialistas farão o mesmo em relação ao Delta Metropolitano, abrangendo outros municípios da Grande Porto Alegre.
Sobre a Capital, apontaram erros de construção como altura insuficiente dos diques em certos pontos, localização de bombas em um nível abaixo da cota de proteção dos próprios diques e falhas nas comportas. Além destas correções, sugeriram criar um sistema de alertas prévios para a população. A administração municipal, portanto, passa a contar com um estudo elaborado por conhecedores do tema. O passo seguinte é utilizar as sugestões nas obras e demais iniciativas que virão. O mesmo deverá ser feito pelo governo gaúcho e demais municípios metropolitanos quando conhecerem o segundo estudo.
Será indispensável uma articulação com o governo federal, que prometeu ao Estado R$ 6,5 bilhões em recursos do PAC para fortalecer as estruturas anticheias e construir novas. A União se compromete a repassar os recursos, mas a execução das obras caberá a prefeituras, consórcios de municípios e Estado. Para esses projetos se materializarem, é basilar a colaboração mútua entre os três entes federados.
Deve-se atentar para o que disse o conselheiro institucional da agência Ben Lamoree. Ele lembrou que o sistema de Porto Alegre foi projetado para um certo nível de enchente, mas a que ocorreu em maio foi de uma magnitude maior. Cientistas advertem que fenômenos extremos como o recente serão mais intensos e frequentes no futuro. Não há opção para o Estado a não ser se preparar para enfrentá-los. _
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