
05 DE ABRIL DE 2022
NÍLSON SOUZA
O país dos desconfiados
- Você confia no próximo?
Essa pergunta foi feita pelo Instituto Ipsos a mais de 20 mil pessoas em 30 países - e os brasileiros aparecem como campeões mundiais da desconfiança. Apenas 11% dos nossos patrícios responderam positivamente, muito abaixo da média global de confiabilidade, que é de 30%. O levantamento só comprova o que já sabíamos, ou desconfiávamos.
Pra começo de conversa, não confiamos em pesquisas, a não ser, evidentemente, quando elas favorecem as nossas teses e os nossos candidatos. A bem da verdade, não confiamos nem mesmo nos nossos candidatos. Na maioria das vezes, votamos neles porque desconfiamos que os outros são muito piores.
Em geral, não confiamos nos políticos. A mesma pesquisa mostra que 63% dos brasileiros consideram pouco confiáveis seus representantes políticos, como se eles viessem de outro planeta - e não da própria população que os rejeita. Mas o levantamento também indica que a política não é a única fonte de desconfiança. O brasileiro desconfia de tudo e de todos.
Ainda assim, vive caindo em golpes. Isso me parece o mais desconcertante: tem muita gente neste país que duvida do vigário e bota fé no vigarista. Claro, tem também muito vigarista. A todo dia e a toda hora tem alguém querendo tirar proveito da ingenuidade alheia, aplicando trote, oferecendo falsas vantagens, clonando celular, plantando fake news. E os campeões mundiais da desconfiança acreditando. Somos mesmo um país de contradições.
Mas é inegável que a cultura da desconfiança faz parte da nossa formação e, provavelmente, tem relação direta com o clima de insegurança permanente em que vivemos. Crianças, somos instruídos a desconfiar de estranhos. Jovens, somos estimulados a não confiar em ninguém com mais de 30 anos. Adultos, é natural que adotemos o ceticismo como escudo.
Só saímos à rua com a armadura da suspeita. Aí um pesquisador desconhecido aparece na nossa frente e pergunta: - Você confia no próximo?
Se você está entre os 11% que disseram sim, parabéns pela sua coragem e pela sua fé na humanidade. Se você faz parte dos 89% que disseram não, pelo menos está com a maioria. Porém, se você - como eu - sequer foi ouvido, talvez tenha mais um motivo para desconfiar.
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