Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
11 de janeiro de 2012 | N° 16944
MARTHA MEDEIROS
Dias de superfície
Quando era adolescente, passava as férias de verão em Torres ou, na melhor das hipóteses, em alguma praia de Santa Catarina. Até que soube de uma amiga que viajaria para Morro de São Paulo, uma ilha no litoral da Bahia. Nunca tinha escutado falar do lugar.
Segundo ela, era um reduto de hippies, com difícil acesso, sem pavimentação, sem carros e sem luz elétrica. A energia vinha de um gerador a diesel que funcionava até as 22h (a luz elétrica chegou em 1986, e o telefone em 1988). Eu ouvia sobre esse paraíso pitoresco comovida com o desprendimento da minha amiga, mas, por dentro, pensava: nem morta.
Pois passei esse fim de ano adivinhe onde? Pois é. Já estendi minha canga em praias as mais diversas, mas poucas me impressionaram tanto como as de Morro de São Paulo. O mar verde esmeralda, a vegetação nativa, as fazendas onde se plantavam cocos, piaçava e dendê, a fortaleza e o farol que protegeram a ilha contra invasões no século 17, segue tudo lá, porém agora com luz elétrica e infraestrutura.
Carro ainda não entra, e não faz a menor falta. O sistema de transporte interno (dois ou três jipes inveterados, charretes e os próprios pés) dá conta do recado.
São cinco as praias principais, batizadas sem nenhum arroubo de criatividade: chamam-se Primeira Praia, Segunda Praia, Terceira Praia e Quarta Praia. A quinta escapou da simplificação e chama-se Praia do Encanto, um fim de mundo lindo e ermo, que faz você se perguntar: será que morri e fui pro céu? Nenhuma alma à vista. Ideal para quem está sendo procurado pela polícia.
Quem gosta de agito, luaus, balada, deve se hospedar na Primeira ou na Segunda. Os indecisos, na Terceira. Os que querem descanso de fato, com silêncio, tranquilidade, visual imaculado e apenas um ou dois botequinhos com mesas na areia vendendo lagosta como se fosse siri, vão para a Quarta, a eleita desta colunista.
Mas o que mais me chamou atenção nesse oásis foram as marés. Em Morro, nessa época do ano, o movimento das marés se dá com uma rapidez mágica – ou eu andei tomando muita caipirinha.
Por exemplo: você senta dentro do mar com água pela cintura, curtindo os peixes coloridos que praticamente vêm comer na sua mão, e em poucos minutos está sentada na areia úmida feito uma criança, só falta o balde e a pazinha para começar a construir seu castelo. O mar se recolhe como se pressagiasse a chegada de um tsunami.
Lembrei de uma outra amiga que reclamava de pessoas que não tinham proa oceânica e viviam com água pela canela – uma metáfora poética para identificar aqueles que nasceram para a superfície, e não para mergulhar nas profundezas. Morro de São Paulo a desapontaria.
É preciso andar muitos metros mar adentro para encontrar algum tipo de profundeza. As piscinas naturais da Quarta Praia são rasas, e no raso ficam também nossos problemas. Um lugar onde não se corre o risco de pensar demais, de ir fundo em coisa alguma. Paz e amor, bebê. A herança dos hippies a maré nunca levou.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário