Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 7 de janeiro de 2012
08 de janeiro de 2012 | N° 16940
VERISSIMO
Rabanada
Sobrou uma rabanada. Huguinho viu que tinha sobrado uma rabanada e começou sua progressão em direção à mesa. Lentamente, a princípio, para não atrair atenções. Depois acelerando um pouco até ter a rabanada ao alcance da sua mão.
Estendeu a mão e...
– Huguinho!
– Quié, mãe?
– Não toque nessa rabanada.
– Mas, mãe.
– Ofereça para a dona Anita.
– A dona Anita já se encheu de rabanadas.
– E você, quantas comeu?
Huguinho tinha comido 10, mas não era hora de dar munição ao inimigo.
– Duas.
– Não minta. Vá oferecer pra dona Anita.
– Por quê?
– Porque ela é visita. Porque não fica bem alguém da casa comer o último pedaço, seja do que for. Porque a boa educação manda que a pessoa mais velha seja sempre melhor tratada.
– Quantos anos tem a dona Anita?
– Não interessa. Acho que uns 68.
– A dona Anita está comendo rabanadas há 68 anos. Eu, só há 12.
– Pois então? Ela está mais perto da morte. Tem menos tempo do que você para comer rabanadas.
– Mas já comeu muitas mais do que eu.
– Huguinho, pare de embromar e ofereça esta rabanada à dona Anita.
– Não, é sério. E se eu morrer nos próximos dois minutos?
– Só se for de comer tanta rabanada.
– Eu posso muito bem cair morto neste instante. Ou daqui a 20 anos. De qualquer jeito, não terei a oportunidade de me igualar à dona Anita na quantidade de rabanadas consumidas em toda a sua vida.
– Huguinho...
– Eu só quero deixar claro que a proximidade da morte não pode ser critério. Teoricamente, todos aqui podem estar perto da morte. Mas há só uma rabanada.
– Ai, meu Deus. Por que nós fomos botar você numa escola experimental? Qual deveria ser o critério, então?
– Quem chegar à rabanada primeiro. E eu estava chegando.
– Ah é, Huguinho? A lei do mais forte, do mais rápido, do mais oportunista? Onde é que ficam a consideração pelos outros, as boas maneiras, a moral e a ética? Enfim, a civilização?
– Acho que nenhuma forma de civilização resiste a uma última rabanada.
– Você não aprendeu isto nesta casa, Huguinho, e espero que não tenha aprendido na escola. Agora chega de conversa e leve esta... Rabanada! Onde está a rabanada?!
O prato está vazio. Enquanto mãe e filho discutiam, alguém pegou a última rabanada sem ser visto. Fim de conversa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário