sábado, 7 de janeiro de 2012



07 de janeiro de 2012 | N° 16939
CLÁUDIA LAITANO


O Louvre é nosso

O brasileiro é o novo turista japonês. Japoneses sempre gostaram de viajar e de tirar fotos (muitas fotos) – e continuam gostando. O que mudou foi o Brasil, onde passagens internacionais e câmeras fotográficas deixaram de ser prazeres restritos a quem tem muita folga no orçamento para gastar com artigos de segunda necessidade.

Hoje todo mundo fotografa o tempo todo, mas ninguém fotografa tanto quanto os brasileiros – que, não por acaso, nunca viajaram (e gastaram) tanto como nestes anos de crise lá fora e ascensão de uma nova classe média aqui dentro.

Não foi surpresa, portanto, a notícia divulgada esta semana de que o Brasil foi o segundo país com mais visitantes estrangeiros no Louvre em 2011, perdendo apenas para os Estados Unidos. Atrás de americanos e brasileiros, uma legião de italianos, australianos, chineses, alemães e russos completa a lista de turistas de nacionalidade estrangeira que mais visitaram o museu francês no ano que passou.

Com crise e tudo, o Louvre atraiu 8,8 milhões de visitantes em 2011– um recorde atribuído, em grande parte, ao aumento de turistas oriundos de países emergentes como o nosso.

A origem dos museus é essencialmente aristocrática. Na ausência de carrões e roupas de grife, os ricaços do século 17 exibiam-se para os amigos reunindo objetos exóticos e obras de arte em coleções particulares que ficaram conhecidas como “gabinetes de curiosidades”. Se o sujeito, além de rico, era rei e morava em um palácio, era provável que possuísse também uma galeria de esculturas e pinturas de família guardadas em casa para seu real deleite e o de sua corte.

Quando os reis começaram a perder suas cabeças, no século 18, palácios como o Louvre foram transformados em museus abertos ao público. Obras de arte e objetos raros podiam, enfim, ser admirados por todos os interessados – nobres e plebeus, cultos e inocentes, japoneses e brasileiros.

Na prática, admirar obras de arte é apenas uma das muitas atrações de um museu moderno. Milhões de turistas pagam ingresso e enfrentam longas filas diante dos portões do Louvre não exatamente para conhecer a pintura francesa do século 15, mas para tirar foto na frente da Monalisa, comprar bugigangas na lojinha ou simplesmente desfrutar do sentimento de “distinção cultural” que a experiência de visitar um grande museu sempre desperta.

O visitante do Louvre, ao mesmo tempo em que é soterrado pela sensação de que nunca seria capaz de dar conta de tantos séculos de arte acumulados, jamais deixa de congratular-se intimamente: “Estou no Louvre, pô!”.

Os brasileiros não estão mais cultos ou interessados em arte hoje do que há cinco ou 10 anos, estão apenas com um pouco mais de dinheiro no bolso. Cultura e sensibilidade artística, afinal, não dependem apenas de dinheiro ou mesmo de viagens ou colégios caros, mas de uma imponderável disposição íntima de espírito que algumas pessoas, oferecidas as devidas oportunidades, optam por desenvolver e outras não.

Ainda assim, imaginar batalhões de turistas brasileiros fazendo fila na porta de um museu (em vez de se acotovelando na entrada de um shopping) é uma boa notícia para começar o ano.

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