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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
05 de janeiro de 2012 | N° 16937
PAULO SANT’ANA
Gosto e não gosto
Se porventura houver quem reclame que falo demais em mim próprio nas minhas colunas, respondo que faço assim por eu ser o assunto que mais conheço.
E, enquanto escrevo sobre mim, deixo de me meter na vida dos outros, das quais nada entendo.
Se fosse escrever sobre a vida dos outros, estaria correndo temerariamente o risco de me dar mal, eis que incorreria no erro de conduta de bisbilhotar a privacidade alheia.
Então, permitam que eu fale de mim, o que vem dando certo há 40 anos.
Esse meu visitar as profundezas e os lugares rasos da minha própria personalidade é um exercício que me dá prazer.
Eu sou eu e minhas circunstâncias, como escreveu Ortega y Gasset. E só as minhas circunstâncias já dariam para escrever mil livros.
Escrevem-me dizendo que há um restaurante em frente ao Colégio Sevigné, na Rua Duque de Caxias, POA, em que às quartas-feiras e sábados servem excelentes massas cujas receitas foram herdadas do célebre Spaguettilândia, aquele antigo que existia na Borges de Medeiros. Se tem mesmo algo a ver, é coisa boa.
E um dia vou até lá conferir.
Devo ser muito chato para comidas. Sempre falo aqui sobre o que gosto de comer, agora vou escrever sobre o que não gosto de comer.
O campeão das comidas que detesto é o rabanete. Quando peço uma salada mista e vem em cima o rabanete, rejeito toda a salada e peço outra sem o rabanete. É que, para mim, o rabanete infesta de mau cheiro os outros legumes.
Outra coisa que vejo as pessoas comerem como entrada nos restaurantes italianos e que não suporto: a tal de berinjela. Não posso entender como as pessoas conseguem comer berinjela e nabo. O nabo, para mim, é uma naba mesmo.
Mas tem gente que adora o que não gosto. Tem gosto para tudo. As hienas, por exemplo, gostam de carniça.
Eu, por exemplo, adoro camarão e dizem que o camarão traz os excrementos em sua cabeça. Eu como, por isso, sem a cabeça.
Querem ver eu passar fome é me convidarem para uma paella e haver lula nesse prato. Cruzo meus talheres e só tomo Coca-Cola Zero. Não gosto de lula, não como borracha.
Por sinal, lembrando-me do horroroso radiche, não sou muito adepto das saladas verdes: não sou coelho.
Churrasco, para mim, tem de ser com sal grosso. Eu como churrasco temperado com sal fino ou com salmoura, vá lá, mas o que eu adoro é com sal grosso. Não sei por quê.
Tem uma coisa que os gaúchos adoram. Não tenho dúvida de que sou um autêntico gaúcho, mas me envergonho de dizer que não gosto de chimarrão. Não gosto, que vou fazer?
Sinto dizer também, mas não gosto de chimarrão nem de matambre.
Eu gosto é de empada. Existem umas na Rua José do Patrocínio, imediações da Igreja Sagrada Família, que são divinas.
Eu gosto de bolinho de batata recheado de carne, eu adoro pimentões recheados (morrones rellenos) no Gambrinus, que fazem para mim por encomenda, que coisa deliciosa.
Por sinal, no Gambrinus, como sempre fora do cardápio: a tainha frita que me fazem lá, que mandam comprar minutos antes os animais na banca dos peixes do Mercado Público, são extraordinárias.
Talvez eu só não tenha encontrado em nenhum restaurante de POA uma coisa que me leva às nuvens de tanto prazer: bagre ensopado, com tomate, pimentão etc.
Comer é o maior prazer.
Convidem-me para comer essas coisas que elogiei, que estarei lá na hora marcada.
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