segunda-feira, 2 de janeiro de 2012



02 de janeiro de 2012 | N° 16934
L. F. VERISSIMO


Little Brazil

O“New York Times” publicou uma matéria sobre a invasão brasileira de Miami, onde a nossa nova classe média está indo comprar apartamentos, eletrodomésticos, roupas e bolsas de grife – tudo mais barato lá do que aqui. Segundo o “Times”, só o Canadá manda mais gente para a Flórida do que o Brasil, mas os canadenses gastam menos.

Os comerciantes e as autoridades de Miami pressionam o Congresso americano para acabar com o visto ou facilitar sua aquisição por brasileiros, e mudanças havidas aqui recentemente na concessão dos vistos – antes irritantemente racionados – já são resultado da crescente importância dos brasileiros para a economia deles.

É verdade que antes de o Brasil ocupar Miami, Miami já tinha ocupado partes do Brasil, como nota quem passa pela Barra, no Rio, onde cada terceiro outdoor ou nome de prédio ou loja é em inglês. O que aconteceu foi que a Miami original ficou mais acessível a brasileiros do que as cópias locais.

Imagino que em breve estaremos desafiando os cubanos como principal força política latina na região. Entre parênteses: uma vez fui convidado para uma Feira do Livro em Miami e acabei num jantar oferecido aos visitantes pela comunidade cubana. Nascido em Porto Alegre, a um pulo de Buenos Aires e Montevidéu, julguei que não teria nenhuma dificuldade em, pelo menos, acompanhar as conversas. Inocente pretensão. Fora uma ou outra interjeição dirigida, adivinhei, ao Fidel, não entendi uma palavra. Não falavam um espanhol reconhecível.

Talvez o espanhol do exílio seja outro. De qualquer maneira, invejei o Milton Hatoum, meu companheiro de mesa, que não só entendia tudo como falava o idioma misterioso. Se pudesse voltar no tempo sabendo o que sei hoje, meu pensamento na ocasião seria: esperem só, cubanos.

Um dia tudo isto será nosso. E em vez de Big Havana se chamará Little Brazil, e em vez de pseudo-espanhol falaremos português, e os nossos cartões de crédito cortarão os ares. Fecha parênteses.

Somos a sexta economia do mundo, é mole? Natural que o novo status traga uma certa ostentação. Comprar um condomínio com vista para o mar em Miami é um bom negócio porque na Barra seria mais caro, embora o mar seja o mesmo. Mas não é só isso. Olhando o mar da sacada do seu apartamento em Miami você pode dizer que realizou o sonho de ser americano que move tantos da sua geração. Você é um proprietário no primeiro mundo, lá onde “delivery” é delivery mesmo, e tem a escritura para provar.

Claro que seu orgulho seria maior se o fato do Brasil ter ultrapassado a Inglaterra para se tornar a sexta economia do mundo significasse um crescimento melhor compartilhado e um atendimento social mais, bem, inglês, e mais brasileiros com saneamento básico do que fazendo compras em Miami. Mas isso é história para outros tempos.

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