quinta-feira, 3 de novembro de 2011


ELIANE CANTANHÊDE

Quem avisa amigo é

BRASÍLIA - Nos anos de bonança e crescimento econômico, o governo socialista de Portugal foi pródigo e camarada, mas não precavido. Quando a bonança e o crescimento começaram a arrefecer, as bondades ficaram e as dívidas passaram a pesar. E como!

O resultado é que os socialistas perderam o poder depois de anos e anos, e os sociais-democratas, mais à direita, estão quebrando a cabeça e abusando da tesoura -principalmente no setor público- para pagar as dívidas e equilibrar as finanças.

Os maiores prejudicados são os funcionários públicos, que, neste ano, perderam 10% dos salários e 50% dos subsídios de férias e de Natal. E em 2012 tem mais: corte total desses dois subsídios. A previsão é de um corte de 14% em média em dois anos. De doer.

Já está convocada uma grande manifestação para o dia 16, enquanto as duas principais centrais sindicais, a comunista e a socialista, articulam uma greve geral para o fim do mês.

O povo vai para a rua e o risco, portanto, é de Portugal repetir a Grécia, ou melhor, os portugueses repetirem os gregos e começarem a botar fogo no circo. É claro que as autoridades não admitem essa hipótese, mas convém ficar de barbas de molho.

É por isso que o jovem e estreante primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, do PSD, que assumiu há menos de seis meses, olha de fora o estágio brasileiro e avisa que Portugal já passou por tempos de crescimento, prosperidade e investimento -e se comportou como se fossem eternos. Foi imprudente. E deu no que deu.

Em entrevista à Folha, ele advertiu Dilma (teria mais sentido se tivesse sido antes, para Lula) meio na base do "eu sou você amanhã": "Se o Brasil aumentar a despesa pública além daquilo que puder sustentar no futuro, agora estará bem, mas daqui a dez anos estará mal".

Lembra um pouco a fábula da cigarra e da formiguinha. Ouve quem quer, segue quem tem juízo.

elianec@uol.com.br

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