domingo, 11 de julho de 2010


FERREIRA GULLAR

Rio, campo minado

Qualquer um de nós poderá amanhã voar pelos ares ao passar sobre um bueiro da Light

UM BUEIRO explodiu em plena avenida Nossa Senhora de Copacabana, a umas poucas esquinas de minha casa, e lançou pelos ares um casal de norte-americanos que tinha vindo à cidade maravilhosa a serviço. Estão os dois num hospital, ela com 85% do corpo queimado.

O bueiro que explodiu é da Light, a empresa que fornece energia elétrica à cidade. Sei, por uma conhecida que é médica e atende em hospital público, que esse não foi o primeiro bueiro a explodir, outras pessoas morreram em suas mãos, queimadas por explosões semelhantes, ocorridas na zona norte do Rio.

Só que, como foi na zona norte e as vítimas eram gente humilde, nada se soube. Parece que este é o sétimo bueiro que explode.

A verdade é que nós, moradores do Rio, vivemos em cima de um campo minado. Você, eu, seu filho, qualquer um de nós poderá amanhã voar pelos ares ao passar sobre um bueiro da Light. Como sair desta? Se cabe ao governo fiscalizar o desempenho das empresas para impedir que ocorram coisas assim, por que ocorrem? As empresas subornam os responsáveis pela fiscalização?

A impressão é de que quem deveria defender nossos direitos passou para o lado dos que os solapam. Se empresas e Estado estão unidos contra nós, talvez a saída seja tomarmos as rédeas e fazermos como no caso do Ficha Limpa. Se os que estão politicamente organizados passaram para o outro lado, cabe ao povo desorganizado tomar de volta a autoridade delegada a eles.

Ao prefeito do Rio:

Excelentíssimo prefeito Eduardo Paes, desculpe-me se me dirijo publicamente ao senhor para tratar de assunto tão miúdo. É que lhe escrevi uma carta a respeito e não obtive resposta, mas agora que decidiu agir contra os buracos de rua, meu assunto se torna oportuno, pois, muito embora miúdo, tem enorme importância para as pessoas que residem à rua Sebastião Drumond, no bairro de Anchieta.

Lá mora Maria das Dores da Costa, que trabalha em minha casa e tem um filho inválido, de dez anos, que não fala nem fica em pé. Para levá-lo ao terapeuta, vale-se de uma cadeira de rodas, em que o conduz até a esquina onde passam ônibus e táxis. Na rua dela, não passa nada disso, sabe por quê? Porque a rua é uma vala só, de uma esquina a outra.

A bem dizer, não é rua, é um buraco de muitos metros de comprimento. Esse buraco, senhor prefeito, foi se aprofundando e alargando, a cada ano, a tal ponto que já toma quase toda a largura da rua.

Significa que os moradores dispõem atualmente de apenas alguns palmos de chão, ao saírem de casa e irem ao trabalho ou às compras. E cada dia que passa, como o buraco aumenta, há menos chão para pisar, de modo que, em breve, não poderão mais sair de suas casas, porque o buraco terá tomado conta da rua toda. O buraco é grande, mas a rua é relativamente pequena, senhor prefeito.

Será que o senhor poderia, num de seus poucos momentos disponíveis, socorrer os moradores da rua Sebastião Drumond, antes que o buraco engula também as próprias casas onde moram?

Peço que releve a ousadia, mas é que, por minha conta, sem ter sido eleito por ninguém, atribuí-me a obrigação de falar por essas pessoas cuja voz ninguém ouve. Espero que desta vez o senhor nos ouça.

* Esta Copa começou chata, mas depois se tornou instigante. No jogo Brasil versus Holanda, tivemos a performance de Felipe Melo, que sozinho fez tudo: deu o passe para o gol de Robinho, fez o gol da Holanda e ainda pisou num adversário para ser expulso e facilitar nossa derrota.

Mas inacreditável mesmo foi o jogo de Paraguai com Espanha, quando um jogador espanhol agarrou pelo braço um adversário até jogá-lo no chão e provocar um pênalti. Vibrei, mas o paraguaio chutou nas mãos do goleiro. E não é que, em seguida, o Paraguai cede também um pênalti ao adversário? Xabi Alonso bateu e fez, mas o árbitro anulou porque houve invasão da área.

Xabi bateu de novo, mas aí o goleiro Villar defendeu. Não dava para acreditar. Foi então que a Espanha invadiu a área paraguaia, Pedro chutou livre, mas, caprichosamente, a bola acertou a trave de novo; mas sobrou para Villa, que também chutou, e ela outra vez bateu numa das traves, depois na outra trave e finalmente entrou! Comecei a rir, parecia um filme dos Trapalhões.

** Lula aprovou a atuação de Dunga. Claro! Yabadabadoo!

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