quinta-feira, 22 de julho de 2010


ELIANE CANTANHÊDE

Plínio, o provocador

BRASÍLIA - No próximo dia 26, Plínio Arruda Sampaio faz 80 anos. Viu e participou de muita coisa que ocorreu neste país nas últimas seis décadas, pelo menos. Em 1964, fugiu de Brasília de carro com um casal amigo e os dois filhos pequenos de André Reis, um figuraça do velho "partidão", que os "emprestara" para fingir que era uma família.

Depois de 12 anos no exílio, no Chile e nos EUA, ele articulou com Fernando Henrique e Almino Afonso, ex-ministro de Jango, o Partido Socialista Democrático Popular (PSDP), que já tinha até programa e manifesto, mas não vingou. Segundo ele, FHC roeu a corda e passou a defendeu a união do antigo MDB contra a ditadura.

Plínio pulou para outra empreitada e fez o primeiro estatuto do PT em 1980. Mas, com o tempo, se desiludiu: "Acompanhei a virada do PT para a direita. Aí, fim de papo".

E foi um dos fundadores do PSOL, pelo qual concorre agora contra Serra, Dilma e Marina, na condição de "nanico". O dissidente do PT nasceu com discurso vigoroso, mas condições frágeis.

Com uma curiosa trajetória, que começa na comportada democracia cristã -era deputado do PDC quando, aos 32 anos, relatou a reforma agrária na Câmara-, Plínio saiu do centro, guinou para a esquerda e fincou raízes na extrema esquerda, se é que é possível falar em extrema esquerda no Brasil.

Há quem entre em campanha para ganhar, custe o que custar (em vários sentidos). Não é o caso do octogenário Plínio, que entrou porque seu partido decidiu ter candidato próprio sem ter opções de nomes e porque ele quis um espaço para pregar a justiça social.

Na sua opinião, FHC e Lula avançaram pouco nessa questão fundamental, porque a redistribuição de renda é lenta e tem sido via salário, não via capital. Mas ressalva: "Eu não sou contra governos, sou contra o Estado brasileiro".

Numa eleição polarizada, Plínio pode cumprir o papel de... provocador. O que pode ser muito bom.

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