sexta-feira, 16 de julho de 2010



16 de julho de 2010 | N° 16398
DAVID COIMBRA


Não dê opinião

Dar opinião faz mal. Não falo sobre TER opinião, e sim de emiti-la. Alguém aí vai dizer: olha quem falando, justo ele, que a todo momento dá opinião.

Não é verdade. Escrevo muito acerca de muitas coisas, mas nem dou tanta opinião assim. E, se dou, importa-me menos a minha opinião e mais a forma como a expresso. Prefiro que alguém diga:

– Não concordo uma única lhufa contigo, mas o texto eu a-mei!

Do que: – Concordo todas as lhufas contigo, mas o texto achei troncho.

Além disso, estou me esforçando bravamente para dar menos opiniões. É difícil. A todo momento solicitam minha opinião sobre algo. Sei que com você também é assim. Você é obrigado a votar, você é interrogado em pesquisas, você participa de interativas.

Você lê um texto em um blog e ali em cima está escrito: “Comentários”. Quer dizer: estão instando-o a comentar o que leu. E, se você não comenta, você lê o que os outros comentaram. Aí fica com vontade de comentar também. De dar opinião. E isso faz mal.
Por quê?

Porque, ao expressar sua opinião, você a torna pública. As outras pessoas tomam conhecimento dela. Logo, você assume um compromisso com a sua opinião.

Você tomou partido. Assim, os outros, que têm outras opiniões, diferentes da sua, não são contra a sua opinião: são contra você. E você é contra eles.

É isso que faz mal: atrelar-se à própria opinião como se fosse um dogma. Como se a sua opinião fizesse parte de você. Como se não fosse algo que você pudesse mudar quando bem entendesse. Você é uma vítima da coerência. Um subalterno da sua própria opinião. Alguém não concorda com ela e você fica fulo. Não debate a outra opinião, ataca a outra pessoa:

“Só uma besta ruminante como você para dizer isso!”

Ao que o dono da outra opinião também se enfurece. Com certa razão – ele foi chamado de burro. Ele reage. Chama-o de pústula, sacripanta, galfarro e beleguim.

Pronto. A amargura da discórdia envenenará seu sangue, se espalhará pelo seu corpo, contaminará sua alma.

Sua opinião lhe fez mal.

Você se expressa, se expressa, sente necessidade de se expressar, de desfraldar sua opinião para que o mundo a veja. Você quer ser crítico, você critica. Então, desenvolve o hábito de, como crítico, ver o mundo e as outras pessoas pelo lado ruim. Porque um crítico, na sua concepção, é alguém que procura os defeitos nas coisas e os expõe.

Como dar a sua opinião e aceitar a dos outros serenamente, quem sabe até ponderar a respeito? Como não ficar dependente da própria opinião? Como não se tornar uma pessoa azeda, que em tudo coloca uma vírgula e depois da vírgula um mas?

Não faço idéia. Você faz? Dê aí a sua opinião.

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