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sexta-feira, 23 de julho de 2010
23 de julho de 2010 | N° 16405
DAVID COIMBRA
Além da cor da pele
Depois de alguns dias de África, comecei a me sentir meio estranho. Algo me incomodava no lugar. Ou não exatamente no lugar. Tratava-se de algo... nas pessoas. Não havia lógica, os africanos são gentis, são educados, são boa gente. O que podia ser? Levei tempo para descobrir.
Descobri. Era o racismo.
O racismo está impregnado na alma dos africanos. Não me refiro ao racismo óbvio, motivado pela cor da pele, brancos versus negros. Para este racismo estava preparado. O que me chocou foi como o fator racial é importante para os africanos, como está presente no dia a dia deles. Um africano sempre sabe qual é a tribo do outro africano. É uma informação basilar. A partir dela, ele constrói a imagem do outro.
Mesmo Mandela, um santo acima de quaisquer questionamentos, ninguém esquece que ele é um xhôsa. Já seu sucessor, Thabo Mbeki, não era bem aceito pelos zulus exatamente por ser xhôsa. O atual presidente, Jacob Zuma, é um zulu. Os zulus ficam satisfeitos, mesmo que ele não faça uma grande administração. Os xhôsas nem tanto.
Os outros africanos que chegam à África do Sul também são identificados por suas tribos. Você não é só de Ruanda ou do Burundi. É um tútsi ou um hutu, e ser uma coisa ou outra faz toda a diferença.
Em pouco tempo, eu mesmo, ao conhecer alguém, perguntava qual era a sua tribo. Para quê? Que importância tinha aquilo para mim? Que importância tem isso para qualquer pessoa? O horror: eu também via distinções raciais.
Os africanos acreditam que isso é fundamental. Não é, claro que não é, e esse desvio ainda será a causa de muita dor no continente africano. Porém...
Existe um porém. E é fundamental.
Porém, na África do Sul veem-se negros atrás de volantes de carrões, veem-se negros em restaurantes internacionais, há uma classe média-alta de negros que moram em bairros elegantes, que dirigem empresas, que são astros de TV.
E isso também me intrigou. Como é que os negros estão ascendendo tão vertiginosamente naquele país em que o racismo era oficial há 15 anos e que ainda hoje pulsa, e pulsa mesmo entre eles, negros? E como é que aqui, no país mais miscigenado do mundo, os negros têm tanta dificuldade em escalar os degraus sociais?
A resposta está no Estado.
No Brasil, as fronteiras raciais são difusas. Mas, no Brasil, quando o Estado age para diminuir as diferenças não o faz na base. Não o faz na formação. Na África do Sul, a educação básica se tornou prioridade. A partir da educação básica, uma nova classe negra se formou.
Em meros 15 anos.
É a partir daí que se resolvem os problemas, mesmo os mais viscerais, como o racismo. A África do Sul, onde a raça ainda significa algo para as pessoas, onde a desigualdade está na alma do povo, a África do Sul planeja o futuro. Um futuro de um povo só. E o Brasil, onde todos somos brasileiros, até quando a igualdade será protagonizada pelo povo, só?
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