sábado, 10 de julho de 2010



11 de julho de 2010 | N° 16393
PAULO SANT’ANA


A deserção de um amigo

Nota-se no goleiro Bruno, enquanto a televisão o filma nos traslados de uma delegacia para outra, de uma capital para outra, um ar olímpico, a cabeça levantada, sobranceiro, diferente de Macarrão e de todos os outros presos que se veem conduzidos na televisão, que abaixam a cabeça e transmitem um ar de quem se envergonha do que fez.

Não o estou condenando por isso. No entanto, os seus passos firmes nos cortejos em que é custodiado por policiais passam a impressão de que ele defenderá a sua inocência até a morte.

Ou será que sua empáfia se origina pelo fato de que ele não manchou de sangue suas mãos, é apenas um mandante do crime, ficou olimpicamente distante de sua execução?

Para agravar ainda mais o componente macabro que há neste crime, o modo como foram eliminados os restos mortais da vítima foi terrível: o corpo esquartejado foi lançado para cães da raça rottweiler o devorarem.

Talvez haja mais crueldade e sangue-frio, do que assassinar uma mulher, em lançar suas partes esquartejadas para os cachorros devorarem.

É um crime perverso e imperdoável.

Se foi Bruno mesmo que mandou matar Eliza, mais ainda agrava sua autoria o fato de que eram de suas relações íntimas esses homens capazes de tanta crueldade.

Já para esquartejar um cadáver é necessário muito sangue-frio de um criminoso.

Mais ainda ele se torna culpado de crime sanguinário e hediondo quando lança o cadáver partido para os cães o devorarem.

Não estranha por isso que este fato venha tendo esta larga e ampla repercussão pela imprensa.

Alie-se a isso o fato de que o principal envolvido era goleiro do Flamengo, o clube mais popular do Brasil, e se compreende assim o imenso estrépito que o caso está tendo na mídia.

Onde estavas, quando mais precisei de ti? Por trás de que ermos túmulos te escondias quando eu mais necessitava de teu socorro?

Lamentei mais que tua ausência, lamentei a tua falta.

Pensara eu que tivesses a consciência de que, por teres me conquistado, jamais poderias me abandonar.

Fazia frio e o frio que fazia me amedrontava menos pelo tremendo obstáculo que tinha de enfrentar do que pela tua ausência.

Onde te metias? O que te fez me deixar sozinho diante de tantas adversidades intransponíveis?

Um grande amigo que deserta é como quando morre um filho ou o pai da gente.

Aí é que se vê quanto foi grande sua utilidade, aí é que se percebe que daqui por diante todos os obstáculos parecerão ainda mais intransponíveis.

Por que te distanciaste, onde foi que te decepcionei?

Como trilharei agora sem tua companhia as ruas difíceis desse tempo, agora ainda mais atribulado?

Onde estás que não percebes o meu vazio, o meu vácuo, a minha pane?

Não há mais graça nem eficácia na vida com um amigo desertor.

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