quinta-feira, 8 de julho de 2010


CRISTINA GRILLO

Tristeza profunda

RIO DE JANEIRO - Estudei em escola pública. Não em uma daquelas que ocupam o topo dos rankings de desempenho, mas em uma pequena escola de subúrbio, hoje cercada por favelas violentas, em uma das muitas "faixas de Gaza" que separam os cariocas em castas.

Lá, tinha professores dedicados, disciplina rigorosa e aulas que me prepararam para, anos mais tarde, enfrentar um disputado vestibular e conseguir vaga em uma universidade federal.

Uma vez por semana íamos à biblioteca, sala enorme com estantes cobertas de volumes coloridos. Escolhíamos livros que, mais tarde, discutiríamos em sala de aula. Tínhamos aulas de música, artes.
Lembro-me de carregar na pasta -não se usavam mochilas- uma caixa de fósforos cheia de grãos de feijão que me ajudavam a entender os conceitos de matemática.

Crianças assustadas, fazíamos de tudo para passar longe do consultório onde um dentista nos examinava e, se nos comportássemos, nos dava de presente uma escova de dentes novinha. Agentes do posto de saúde nos visitavam para cuidar de nosso bem-estar.

Boas lembranças. Por isso me bate uma tristeza profunda quando vejo os resultados do Rio de Janeiro no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgados pelo MEC no início da semana.

Na classificação até o quinto ano, 42% de nossas escolas não atingiram a meta proposta, a segunda pior colocação entre os Estados. A situação piora quando se avaliam as escolas até o 9º ano: 62% estão abaixo da projeção, o pior índice do país.

No ensino médio o Estado tirou 2,8, à frente apenas do Piauí. Ficamos muito abaixo da já reduzida média nacional -3,6.

Se, nos tempos da Escola Ruy Barbosa, aparecesse em casa com uma nota dessas, levaria uma bronca inesquecível.

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