segunda-feira, 5 de julho de 2010



05 de julho de 2010 | N° 16387
L. F. VERISSIMO


Como palhaços

Nenhuma imagem de derrota – jogadores prostrados, jogadores sendo consolados por companheiros, técnicos se lamuriando – é mais triste do que a imagem de torcedores fantasiados, pintados com as cores da sua bandeira, prontos para a festa, subitamente inertes e com o olhar parado de quem não acredita no que viu.

Ela evoca um dos mais antigos clichês da arte sentimental, a imagem do palhaço que chora, tornada ainda mais pungente pelo cabelo de palha, o nariz de bola e o sorriso desenhado.

Na sexta-feira, mesmo quem não estava de cabeleira colorida no meio da torcida brasileira, fazendo o possível para ter um momento de glória – aparecer na TV! –, se sentiu um pouco como palhaço de ópera. Estávamos com a cara pronta para ganhar, e perdemos sem saber por quê.

Tínhamos um time no primeiro tempo que não voltou para jogar o segundo. As falhas do Julio César e do Felipe Melo não explicam tudo: onde foi parar o time que saiu de campo no intervalo nos deixando radiantes? Em que mundo paralelo ele desapareceu, que vácuo misterioso o engoliu?

Enquanto isso, o Uruguai confirmava sua vocação para o improvável – ou para o épico, dependendo das suas simpatias –, que já tinha se manifestado quando eles por pouco não foram eliminados na fase classificatória, lembra? Ficou entre eles e a Costa Rica. E agora estão a um jogo de chegar à final, na base de garra, sorte e até de futebol.

No jogo Uruguai x Gana aconteceu quase tudo o que pode acontecer num campo de futebol, salvo inundação ou ataque de abelhas. Aquela defesa com a mão do Suárez, em cima da linha do gol, levantou uma questão filosófica. Se Suárez não faz o pênalti, as chances de a bola entrar no gol eram de 100%. As chances de uma cobrança de pênalti dar em gol são de 80%, mais ou menos.

Suárez foi punido pela sua defesa espetacular, mas ilegal, mas seu time foi beneficiado. Nunca o pênalti foi tão incentivado. A questão filosófica é: gol moral não deveria valer mais do que uma infração tão grave que deu na expulsão do infrator? Eu sei, eu sei, questão impraticável. Por isso é que é filosófica.

Era para ser o ataque infernal da Argentina contra a solidez alemã. Surpresa: como um desses robôs de brinquedo que se transformam num caminhão, a fortaleza alemã se transformava numa divisão panzer quando tinha a bola e chegava com cinco na frente. A farra ofensiva quem fez foram os alemães – jogando atrás!

No outro jogo, o Iniesta passou pelo Paraguai e levou a Espanha junto.

E para quem eu vou torcer agora? Pelos vizinhos épicos, claro. Lembrem-se, uruguaios: “La pátria ou la tumba!”

Uma ótima segunda-feira e uma excelente semana

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