sábado, 17 de julho de 2010



17 de julho de 2010 | N° 16399
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Piadas étnicas (2)

O alemão chegou ao Rio Grande do Sul em 1824, e foi de repente uma presença estranha, um tipo loiro e de fala arrevesada, pronunciando o português de uma maneira que soava engraçada aos ouvidos da gauchada bruta.

Então surgiram as piadas do Fritz e da Frida. Uma das melhores diz que o Fritz bebia muito, tanto que a Frida não aguentava mais o marido, até que ele prometeu não beber mais.

Mas num sábado não se aguentou: passou na venda e encheu a cara. Chegou em casa e encontrou a porta chaveada, e a Frida, do lado de dentro, disse que ele não entrava porque estava bêbado. Ele argumentou que tinha só tomado um aperitivo.

Então a Frida mandou que ele assoprasse na fechadura para ela cheirar o bafo. Ele viu logo que ela perceberia o cheiro do Schnaps. Então arriou as calças e deu um pum na fechadura. A Frida cheirou e disse: “Tu não tá pêpado mas amanhã tu tem que í no tentista, porque tá com hálito horífel !”.

Desde tempos imemoriais, os judeus no mundo inteiro foram perseguidos. Trabalhadores e inteligentes, não por acaso são o povo escolhido por Deus. Parecem estar permanentemente esperando perseguição e preconceito, razão pela qual gostam de ter grandes valores em pequenos volumes, como diamantes.

Fizeram um grande bem para o Rio Grande do Sul, constituindo famílias que deram nomes ilustres para o nosso Estado. Nas anedotas, os judeus Isaac e Sara sempre aparecem como interesseiros, lúbricos e grudados nos pilas.

Diz que uma vez o Samuel estava apaixonado por Sara. Queria porque queria a mulher do amigo Isaac. Mas Sara lhe disse que só teria relações com ele por mil reais. Então, o Samuel pediu ao amigo Isaac mil reais emprestados e, enquanto o amigo estava na loja, foi na casa dele e transou com Sara, pagando-lhe os mil reais cobrados. Quando o Isaac lhe cobrou o empréstimo, disse: “Passei lá no teu cassa e texei com a Saga, o teu mulher”.

Os italianos vieram para cá em 1875, coisa nova e barulhenta na população gaúcha. O italiano da anedota era o gringo, sempre espertalhão e simpático. Diz que em 1929 o Borges de Medeiros botou uma lei cobrando tributo sobre o vinho, que os gringos faziam em casa e comerciavam largamente sem pagar qualquer tributo, e o Estado ficava de mãos abanando.

Então uma vez, um gringo descia a serra trazendo num burro dois corotes de vinho quando foi parado por uma patrulha da Brigada Militar: “Que tu trazes aí, gringo?”, perguntou-lhe o sargento. “Aqua de San Genaro”, respondeu o gringo. O sargento provou e berrou “É vinho!” . Com a maior cara de pau, o gringo se ajoelhou, tirou o chapéu e exclamou olhando para o céu: “Miráculo, San Genaro!”.

E por aí se vão as piadas de árabes avarentos, de políticos corruptos, de homossexuais, de loiras burras e de maridos traídos, cada uma mais engraçada que a outra. Acredito que não se trata de preconceito, mas de enzimar com o riso uma situação socialmente constrangedora. A piada étnica não é um mal, mas um bem. Eu acho.

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