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segunda-feira, 19 de julho de 2010
19 de julho de 2010 | N° 16401
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Ospa
Há uma peça de Haydn conhecida como A Sinfonia do Adeus. Durante a execução, os músicos abandonam um a um o palco. Ao final, resta apenas um solitário violino. Os profissionais do príncipe de Esterházy, a quem Haydn servia, estavam desgostosos com seus salários, e essa foi a forma que encontraram para manifestar seu protesto.
Dentre todos os artistas, o músico tem uma função única: a de ser a ponte entre a música e o público. A música não existe se não houver alguém que a interprete. Para bem interpretar, entretanto, o músico necessita de seu instrumento. O instrumento, por sua vez, é um ser vivo, requer atenção e zelo.
Abandonem um violoncelo, larguem um fagote num canto da casa: logo perderão a voz, retornando às suas matérias originais, à madeira, às cerdas, ao aço, ao bronze. Deixarão de ser instrumentos para transformarem-se em coisas.
Não nos iludamos, porém: esses cuidados são dispendiosos. Os músicos da Ospa travaram uma longa e exasperada batalha, que – aparentemente – chega ao fim, destinada a obter que o Estado cumpra a Lei 12.404, de 20 de dezembro de 2005, a qual manda reajustar, anualmente, um modestíssimo valor para conservação de seus instrumentos e, ainda, se restarem alguns centavos, para ajudá-los a comprar e manter a indumentária necessária para as apresentações públicas.
Esse subsídio não era mexido há anos. Quem frequenta shoppings sabe o valor de um smoking e os preços das lavanderias.
Tudo isso pode parecer estranho a quem, bem nutrido e bem bebido, senta-se para assistir à Ospa. Esquecem-se, os espectadores, que cada músico é um indivíduo que precisa vestir-se com decência, e que trabalha com um frágil e exigente instrumento.
À frente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre está um senhor sensível e competente, o Dr. Ivo Nesralla, que seguiu de perto o pedido de seus músicos. O maestro Isaac Karabtchevsky sempre os apoiou. O secretário Cézar Prestes é um homem digno, é um homem de qualidades. Mas: por que tivemos, autoridades, músicos, nós, de passar por todo esse gasto de energia?
Erico Verissimo apresentava-se como cidadão de uma cidade que possuía uma orquestra sinfônica. Tenhamos o mesmo orgulho, lutemos por nossa orquestra. E fiquemos vigilantes, não deixemos que os músicos tenham de envolver-se em novo e inglório conflito. Ou será que teremos de assistir, em pouco tempo, à triste execução da Sinfonia do Adeus?
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