terça-feira, 13 de julho de 2010



13 de julho de 2010 | N° 16395
CLÁUDIO MORENO


Silêncio é ouro

Para o professor Veblen, sociólogo americano do início do século 20, um dos traços que os ricos e poderosos usavam para se distinguir dos demais era o espaço exagerado que detinham para seu uso exclusivo.

Isso explicaria as casas faraônicas, as salas de jantar gigantescas, os jardins que pareciam parques e a preferência marcante pelo golfe, esporte que ocupa muitos hectares de terreno aprazível para a diversão de um pequeno grupo de jogadores bem-afortunados.

Agora, um século depois, tudo nos faz acreditar que houve uma mudança nos símbolos de prestígio, pois foi o silêncio – ao se tornar um recurso natural escasso e difícil de encontrar – que se transformou automaticamente no objeto de desejo e ostentação daqueles que podem desfrutá-lo.

Nosso homem comum, aqui, coça a cabeça: ele entende a inveja que nossos antepassados sentiam pelas grandes mansões e pelos magníficos gramados dos ricaços, mas não vê vantagem alguma no silêncio – bem pelo contrário. Ele é moderno e acha que é natural que tudo faça barulho, pois é sinal de que tudo está “funcionando”. [

Seu mundo ressoa por toda a parte com carros, aviões, cortadores de grama, alarmes – todas as máquinas e aparelhos que a tecnologia lhe deu para tornar sua vida melhor. Em sua casa, o rádio e o aparelho de som criam um pano de fundo familiar, enquanto a TV, sempre ligada, transmite, diretamente do inferno, o mugido insuportável da vuvuzela. O único silêncio que ele conhece – e detesta – é o da falha mecânica ou da queda de energia, mas este, para seu alívio, felizmente dura pouco.

Pois não devia ser assim. O silêncio, tanto quanto a boa água e o ar puro, sempre foi um bem precioso. Ele nos faz falta e nos revigora. Os sons do mundo exterior exigem nossa atenção imediata e nos fazem seguir o fluxo dos dias sem cair em grandes angústias, o que não é ruim, mas precisamos do silêncio para restabelecer contato com nosso mundo interior, reencontrar nossos sentimentos, rever nossos projetos e refazer nossas perguntas – condição indispensável para viver com intensidade a dor e a alegria dos momentos decisivos da existência.

Na Ilíada, Homero descreve a maneira como os soldados, na planície de Troia, se dirigem para o campo de batalha. Os troianos, diz ele, vêm para a luta em meio a uma tremenda algazarra, qual uma revoada de pássaros barulhentos; os gregos, porém, avançam em profundo silêncio, recolhidos, enchendo-se de força e de coragem para dar, quem sabe, o passo derradeiro.

Cabe a nós escolher entre as duas atitudes, ou, o que seria melhor, alternar entre elas. Eu não desdenho o mundo fácil e reconfortante do som ambiental, mas meu amor à leitura me faz preferir o outro lado, pois, como disse um dia Stefan Zweig, um livro é uma porção de silêncio que nos traz alívio e repouso.

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