sábado, 31 de julho de 2010



01 de agosto de 2010 | N° 16414
PAULO SANT’ANA


Bateria de exames

O Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, é nosso companheiro aqui da RBS.

Sabendo que eu comparecia a muitos médicos e fazia muitos exames laboratoriais, ele me gozava: “Tu não tens nada, não existe quem tenha mais saúde de ferro do que tu. Isso não passa de hipocondria”.

Até que, há um mês, o Guerrinha vem sendo submetido a uma intensa e variadíssima bateria de exames no Hospital Mãe de Deus.

É exame de sangue, exame de urina, cintilografia, ecografia, raio X, ressonância magnética, um inferno astral perseguindo o Guerrinha, que pacientemente se submete à bateria de testes só porque os médicos andaram achando uma anormalidade no fígado.

Entre dois ou três exames, o Guerrinha apavorado vê os médicos o submeterem a vários testes, entre os quais o da esteira e o exame de sono.

Não passa dia em que o Guerrinha deixe de fazer todas as espécies de exames.

O Guerrinha já andava desconfiado de que alguma coisa há para os médicos tomarem tanto cuidado com sua saúde.

Foi então que o Guerrinha decidiu reagir, não suportava mais tanto exames médicos e testes.

Conseguiu reunir numa sala do Mãe de Deus os quatro médicos que requisitam os exames dele.

Os quatro médicos sentados um frente ao outro, o Guerrinha na cabeceira da mesa.

E o Guerrinha desabafou: “Alguma coisa há, eu sinto pelos exames que os senhores solicitam que alguma coisa eu tenho. Quero lhes deixar bem à vontade, estou desconfiado de que os senhores já descobriram alguma coisa grave nos meus exames, senão não me solicitariam tantos. Alguma coisa há”.

Os médicos se entreolharam, e até alguns deles sorriram timidamente.

Foi quando o Guerrinha arrematou: “Vamos deixar de mesuras. Eu gosto de jogo aberto, quero que sejam sinceros comigo. E pergunto desde já, respondam com sinceridade: quando é que eu vou começar a quimioterapia?”.

Os quatro médicos ciaram na gargalhada e mesmo assim marcaram novos exames para o Guerrinha.

Ele já tem os braços crivados de picadas de agulha.

E veio me dizer anteontem que não aguenta mais, o melhor é não procurar os médicos, caso contrário eles vão acabar achando doença nele. “Não vai a médicos, Sant’Ana, é melhor ficar bem longe de consultas, exames e testes, que são uma tortura, ou melhor, um terrorismo”, aconselhou-me ontem o Guerrinha.

Quando disse isso também aos médicos, um deles o chamou a um canto e consolou o Guerrinha:

– Cá para nós, amigo, eu sou também como tu: não vou a médicos.

Mudando de assunto, depois dos últimos jogos do Grêmio e do Internacional pela televisão, afirmo categoricamente: não existe pior tortura do que secar time bom e torcer por time ruim.

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