domingo, 4 de julho de 2010


CLÓVIS ROSSI

Os Ronaldos de 2010

SÃO PAULO - Às vezes, em conversas com estudantes de jornalismo, procuro explicar que ter fontes, muitas e confiáveis, é uma das grandes armas para uma boa reportagem. É assim porque boa parte do que sai nos jornais não é testemunhada diretamente pelo repórter. Depende, pois, de que os participantes do evento (as tais fontes) relatem o ocorrido.

Jogos de futebol eram uma das exceções à regra, porque ocorrem à vista de todos, público e jornalistas. Não dependemos, pois, de fontes para dizer o que ocorreu.

Até que, na final da Copa de 98, veio o piripaque de Ronaldo, que só os integrantes da seleção testemunharam, e que com certeza teve forte influência no que os demais vimos na derrota do Brasil para a França.
José Henrique Mariante, hoje editor de Esporte da Folha, fez a reconstituição com total competência. Mas, como é óbvio, só pôde concluí-la dias depois, quando já estavam beatificadas todas as lendas que costumam circular em ocasiões assim.

O jogo Brasil x Holanda foi a repetição de 1998, com diferenças essenciais: o piripaque não foi de um só, mas de todos, e se deu à vista do mundo inteiro. E, como em 1998, não houve explicação. Só José Geraldo Couto e, na véspera, José Trajano (ESPN Brasil) ousaram afirmar que Dunga transmitiu seu descontrole aos jogadores.

Pode ser, mas acho difícil. Não era uma seleção sub-17, mas um grupo de marmanjos curtidos. Como é que se descontrolariam com o gol holandês Maicon, Lúcio e Júlio César que, não muito antes, haviam superado garbosamente o trauma de tomar em casa o primeiro gol (Internazionale 3 x Barcelona 1, semifinal da Champions League)?

Explicar o que houve só com um divã bem grande, que permita uma viagem à mente de toda a seleção. É tarefa para Contardo Calligaris. Fico esperando, caro Contardo.

crossi@uol.com.br

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