quinta-feira, 8 de julho de 2010



08 de julho de 2010 | N° 16390
CLAUDIA TAJES


A vida no tamanho P

Agora mesmo, na Copa do Mundo, um deles mostrou a que veio.

Em meio a tantos gigantes de ébano e de marfim, foi um holandês de um metro e setenta que acabou com as esperanças do nosso Hexa. Sneijder, camisa 10 e sádico, fez no Brasil, justo no Brasil, o primeiro gol de cabeça da sua carreira, e já saiu de campo dizendo que jamais conseguirá repetir o feito. Isso porque, para os padrões do futebol, o Sneijder é baixinho.

Com exceção desse caso lamentável, é bom ver um baixinho se dar bem em uma sociedade que valoriza os altos. Zagueiros e modelos aí para comprovar. Em que pesem todas as outras qualidades dos homens, a altura ainda é um dos atributos mais valorizados por eles mesmos. Basta ver o desconsolo dos meninos que ficam para trás enquanto os amigos desatam a crescer.

Para os baixinhos, o jeito de triunfar em um mundo habitado por mulheres do porte de uma Katia Suman é ter autoconfiança. O baixinho seguro não precisa comprar uma caminhonete enorme para sair com as grandonas: ele se garante. Sem falar naquela tese de que a natureza compensa lá o que faltou cá, mas disso não há comprovação científica.

Para as baixinhas, a vida é mais fácil. Mesmo que exista a mágoa de nunca chegar a Garota Verão, existem também os saltos e as plataformas para consolar. Sem falar que uma baixinha terá à disposição todos os pequenos, os médios e os grandes que puder pegar. Dependendo do estado de conservação da baixinha, claro.

Roberto Carlos, que se especializou em cantar as mulheres maduras, as de óculos e as gordinhas, não deixou passar a oportunidade de homenagear também as pitocas: quando uma mulher pequena/ vem falar no meu ouvido/ o meu coração dispara/ chega até fazer ruído. É de se imaginar a barulheira do coração do Rei ao cruzar com uma quarentona míope, cheinha e com um metro e quarenta de altura.

Woody Allen, Prince, Charles Chaplin, Al Pacino. Edith Piaf, Madonna, Natalie Portman, Shakira. Baixinho de destaque é o que não falta, e não só no universo das estrelas. Agora mesmo, perto de você, deve haver um baixinho bem-sucedido provando que existe vida abaixo do metro e setenta.

Mas o Sneijder foi sacanagem.

Claudia Tajes substitui Luis Fernando Verissimo, que tem sua crônica publicada no Jornal da Copa

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