quarta-feira, 7 de julho de 2010



07 de julho de 2010 | N° 16389
DIANA CORSO


Faltou resiliência

Utiliza-se o termo “resiliência” para designar a capacidade que algumas pessoas teriam para resistir às provações sem sucumbir ao desespero, sem destruírem-se internamente quando algo no exterior lhes abala a integridade. Resilientes seriam os que sobrevivem psiquicamente aos diversos tipos de catástrofes pessoais e sociais, como traumas, torturas, deportações, perdas, abusos e maus tratos.

Apesar de marcados por essas experiências, elas não os impedem de retomar uma vida relativamente normal. O conceito original vem da física, fala da capacidade de um material para resistir a choques, conservando sua forma original.

Também podemos falar de resiliência para golpes menores do destino, ou seja, a capacidade de levantar rápido depois de um tombo. Foi essa resiliência que não apresentamos na derrota para a Holanda. No início da partida tudo corria bem, dominávamos e tínhamos a vantagem do primeiro gol.

Tomamos um gol e passamos de um estado de confiança, de domínio, para um de gelatina emocional, o destempero tomou conta. É inevitável perguntar por que a equipe adversária conseguiu manter-se animada mesmo enquanto perdia, enquanto nós parecíamos não estar suportando sequer um empate.

Coisa típica de brasileiro, dirão com justeza: aos que voltam para casa sem a vitória não se dedica nenhum apoio, reconhecimento da trajetória, só vale o resultado e disso os jogadores sabiam. Mesmo assim, esperava-se deles, sempre tão incensados pela fama, que tivessem mais recursos para desempenhar seu trabalho.

A defesa de uma criança numa situação traumática passa pela capacidade de lançar mão do “capital psíquico adquirido”, diz-nos Cyrulnik. Para esse autor não se trata de um dom com o qual alguns são agraciados e outros não.

A força para superar as adversidades depende de uma trajetória de vida, do que se recebeu, colheu e do que se faz com isso. Treinar um grupo de homens eficientes, mas frágeis, não faz Esparta. É preciso que cada um deles tenha, e saiba usar, recursos interiores para se sobrepor às frustrações inevitáveis.

No futebol como na vida, não é incomum viver sem nuanças. Mesmo sem ser bipolares, oscilamos entre fantasias de estrondoso sucesso e o pânico do fracasso absoluto.

A resiliência nos habilita a viver sem essa dicotomia, no intervalo, erguendo-se nos momentos difíceis a partir do acervo que carregamos conosco. Entregues aos extremos, muitos acabam transformando o pavor em realidade e paralisam. Para 2014, quem sabe um psicanalista na equipe técnica?

Nenhum comentário: