quarta-feira, 7 de julho de 2010



07 de julho de 2010 | N° 16389
PAULO SANT’ANA


Esclarecendo a confusão

Sobre o episódio de violência sexual ocorrido no dia 14 de maio em Florianópolis, é necessário fazer algumas colocações para esclarecer uma confusão a que está sendo submetida por alguns setores a opinião pública aqui no nosso Estado.

A mãe de uma menina de 13 anos fez denúncia à polícia de que sua filha foi violentada sexualmente por dois garotos de 14 anos em uma orgia de adolescentes. Respeite-se a dor da família da menina, que indiscutivelmente é afinal compartilhada pelas famílias dos demais adolescentes lamentavelmente envolvidos no caso.

Um dos menores acusados é da terceira geração da família Sirotsky, proprietária da RBS, como foi reconhecido publicamente em nota assinada por Jayme Sirotsky, presidente emérito, e Nelson Sirotsky, presidente do Grupo.

Tão pronto foi veiculado o episódio pela internet, por meio de um blogueiro de Florianópolis, molestando o sigilo prudencial da Justiça, que mantinha o caso em reserva imposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a direção da RBS, em atitude louvável, colocou todos os setores jornalísticos da empresa à vontade para cobrir o episódio e manifestar-se editorialmente sobre o mesmo.

Outros comunicadores da RBS em Santa Catarina já se manifestaram sobre o caso. É por isso que estou abordando o assunto voluntariamente, com a transparência que se aconselha, cônscio da repercussão que tem esta coluna.

Nos últimos dias, no entanto, observa-se em um setor da mídia uma carga de crítica insistente contra a família Sirotsky, a RBS e seus profissionais, tentando transformá-los em réus da violência sexual contra a menor, sob a alegação de que a nossa empresa não noticia o episódio de Florianópolis para autoproteger-se.

Mas como? O primeiro veículo da mídia tradicional a noticiar o fato foi o Diário Catarinense em 30 de junho. E o Diário Catarinense é da RBS.

Depois disso, diversos jornais da RBS, Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, A Notícia, de Joinville, Zero Hora e mais outras vezes o próprio Diário Catarinense, além da RBS TV em Santa Catarina, referiram-se ao fato, sempre com o cuidado imposto pela lei, que diz no artigo 143, parágrafo único, do Estatuto da Criança: “Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome”.

O que é que queriam então da RBS, mais do que noticiar o fato? Queriam que os jornais da RBS saíssem expondo vítima e infratores, desrespeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente?

É demais.

A confusão é só uma: algum setor está querendo transformar um fato eminentemente policial ou criminal em luta por interesses empresariais, ligados à concorrência de empresas jornalísticas.

A denúncia oferecida pela mãe da menina violentada está em curso na Justiça, que deliberará sobre o fato e sua autoria. No entanto, a própria Justiça se permite a natural e impositiva reserva que o caso exige quando os envolvidos nele são menores. Ainda ontem, o delegado de Florianópolis deu a informação de que o caso está tramitando dentro dos prazos normais.

A RBS, por seus jornais, assim como outros jornais de outras empresas, noticiou o episódio, como sempre o faz, dentro das cautelas naturais ao mandamento inibitório do Estatuto da Criança e do Adolescente, que não permite sequer a identificação dos acusados, inclusive, como está escrito na norma, o seu parentesco.

É inegável que um adolescente da terceira geração da família Sirotsky se envolveu neste triste episódio.

Mas é terminantemente inaceitável que se queira colocar a RBS, seus dirigentes e profissionais como réus do episódio, confundindo-se concorrência entre empresas jornalísticas com um caso criminal entre adolescentes.

Resta ao público a escolha do tipo de jornalismo que prefere, o do sensacionalismo motivado pela concorrência ou o da responsabilidade legal e editorial.

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