sábado, 17 de julho de 2010



18 de julho de 2010 | N° 16400
MOACYR SCLIAR


Onde está a felicidade?

Em nossa vida, podemos ter dois tipos de ganho, o financeiro e o emocional

Na semana passada, o Informe Especial de ZH divulgou uma pesquisa mundial feita pelo Instituto Gallup com o objetivo de estabelecer o ranking dos países mais felizes do mundo.Empreendimento complicado, esse. Afinal, o que é mesmo felicidade?

Uma definição nos diz que é um estado de espírito ou sentimento, caracterizado por prazer, alegria ou satisfação, mas cada uma dessas categorias é também sujeita a discussões, isso sem falar de outros conceitos com base na biologia, ou na psicologia, ou na filosofia, ou na religião. O Gallup não quis entrar nesses detalhes: pediu aos entrevistados que avaliassem a felicidade em suas vidas numa escala de zero a 10 e fez perguntas relacionadas a sentimentos positivos ou negativos.

Saiu daí a lista dos países mais felizes no mundo: Dinamarca, Finlândia, Noruega, Holanda, Costa Rica, Canadá, Suíça, Nova Zelândia, Suécia, Áustria, Austrália, Estados Unidos, Bélgica, Brasil, Panamá. Nota-se que, tal como na Copa, a Europa está bem representada. O Brasil está num 14º lugar, provável resultado da combinação da alegria exuberante do Carnaval e do samba com a pobreza, a violência, e o desgosto com nossa Seleção.

O que pode explicar tais resultados? Questão complexa. Num passado não muito distante, alguns desses países, os escandinavos por exemplo, eram os campeões mundiais de suicídio, uma situação difícil de compatibilizar com felicidade.

Agora, no entanto, existem mais suicídios nos países do antigo bloco soviético (Lituânia, Belarus, Cazaquistão, Rússia, Ucrânia, Hungria, Latvia, Eslovênia) e no Oriente (Japão, Coreia do Sul, Sri Lanka). As razões para isso são complexas e no momento não vêm ao caso. O que nos interessa é responder à pergunta: o que faz as pessoas felizes? O dinheiro?

Pode ser, porque na lista estão países com alta renda per capita. Dinheiro é importante; não pode, obviamente, ser feliz a pessoa que passa fome, que não tem o que vestir, que, estando doente, não pode comprar medicamentos.

Mas dinheiro não é tudo; outros fatores aparecem aí: o sentimento de ser respeitado, de trabalhar em algo que dê satisfação, de ter autonomia pessoal junto com suporte social, coisa que caracteriza muitos países da lista: Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia aceitam o regime de mercado, mas não abrem mão dos programas de bem-estar social dirigidos à população como um todo.

Em nossa vida podemos ter dois tipos de ganho, o ganho financeiro (ao qual podemos associar o sucesso: o binômio fama-fortuna) e o ganho emocional.

Existe uma antiga historinha a respeito. Fala de um rei que adoeceu gravemente e que, segundo seus médicos, só ficaria curado quando vestisse a camisa de um homem feliz. Saíram, portanto, os emissários do soberano a procurar o homem feliz para dele requisitarem a camisa.

Diferente do Gallup, não conseguiam encontrar ninguém que se enquadrasse nessa categoria, mas finalmente indicaram-lhes um pastorzinho que, segundo todos os moradores da região, era o protótipo do cara feliz.

E de fato encontraram o rapaz pastoreando suas ovelhas e cantando, muito alegre. Só que, e esta foi a grande surpresa, o pastorzinho não usava camisa, nem tinha uma. Agora: será que, batendo queixo no inverno, o cara se considerava feliz? Pensando bem, o melhor é ser feliz – com camisa. Quanto ao rei, o jeito seria ele arranjar outro plano de saúde.

Nenhum comentário: