
SENSO DE HUMOR
– Parem com as piadas. A crise é séria. Muito séria. Temos uma crise mundial de conseqüências devastadoras. – Não estamos rindo, Henrique Meirelles. São nossos dentes batendo de medo de ter que trocar Miami pelo Rio.– Bom, confesso, no meu caso, eu estava rindo de uma piada sem graça. Na lápide de Marx estaria escrito 'quem ri por último, ri melhor'. É idiota. Mas faz rir. Não? – Não acho graça alguma nisso – diz Meirelles.
– É, eu também não. Mas, se me permitem certa fraqueza e franqueza, estou me lembrando de todos os pacotes econômicos que apresentamos com um sorriso enquanto boa parte da população não achava graça alguma naquilo. – Sim, lembram quando o Collor confiscou a poupança e nós apoiamos?
É claro que eu pude tirar meu dinheiro antes. – Não sejam patéticos. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Essas crises são inerentes ao sistema capitalista. – Pode ser. Mas não deixa de ser chato ter de recorrer ao Estado e dar tantos argumentos a esses esquerdistas chatos.
Vejam só o despautério do presidente da República querendo estatizar bancos e se tornar sócio de construtoras e de empreiteiras. Será que ele ainda não aprendeu que o Estado funciona mal na economia?
– Isso mesmo! O único jeito é nos ajudar com bons financiamentos, em nome do interesse geral, e deixar a gente tocar o negócio para evitar corrupção, incompetência administrativa e uma quebradeira geral. Henrique Meirelles ouve de cara amarrada.
– Sim, onde o Estado mete o bedelho, dá tudo errado. – É o que eu sempre digo: a que Estado chegamos.
– Chegamos a um Estado terrível em que, apesar dos lucros sempre crescentes dos nossos bancos, temos de mendigar ajuda estatal. Esse é um precedente terrível.
Depois esses esquerdistas vão querer se vingar nos fazendo pagar impostos que se perderão na cobertura das dívidas de uma máquina mal gerida, inchada e com expectativas artificiais. Não entendo os economistas que trabalham para o Estado, nunca acertam uma. É muita inépcia.
– Meirelles tem razão. Não dá mais para ficar ouvindo essas piadinhas de mau gosto sobre privatização de lucros e socialização de prejuízos. Isso é coisa de leigo, de quem não tem responsabilidade e não sabe o que diz. – Claro, evidentemente, estamos todos no mesmo barco.– Sim, nós em iates e eles em jangadas e canoas. – Já disse para pararem com essas piadas idiotas.
– Desculpa, Meirelles, essa me escapou. É que, às vezes, sou daqueles que perdem o capital, mas não a piada. – Muito engraçadinho. Só que o nosso transatlântico está afundando. Somente a cooperação de todos vai nos salvar para que possamos retomar o espírito de competição e salvar os nossos salvadores pela livre iniciativa.
– É, precisamos de um máximo de Estado agora para garantir um Estado mínimo assim que a crise passar. – Talvez tenhamos de fazer muitas demissões agora e aprender a trabalhar no futuro com equipes muito menores.
– A saúde do capitalismo depende de mais produtividade e mais competividade com empresas enxutas e ágeis. – Como dizia Lênin, vamos dar um passo atrás para poder dar dois passos à frente. Eis o estado das coisas.
juremir@correiodopovo.com.br
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