terça-feira, 14 de outubro de 2008



A CRISE DO IMPÉRIO

A política e a economia são como o futebol: uma caixinha sem surpresas. De onde se mais espera é que vem mesmo.

O mal e as trapalhadas eram exclusividades de Hugo Chávez, Evo Morales e de outros 'cucarachas' com tentações estatizantes. George Bush resolveu fazer-lhes concorrência desleal.

Depois de ter atacado o Iraque com base numa mentira e de jamais conseguir pôr a mão em cima de Bin Laden, viu, sob o seu reinado obscuro e obscurantista, acontecer a desorganização da economia americana.

Teve então de adotar medidas estatizantes para salvar o mercado livre da bancarrota. Merecia, por todas essas contribuições ao declínio do império americano, o Prêmio Nobel da Paz e a simpatia globalizada.

Roberto Sávio, presidente do IPS, apontou seis grandes ações de Bush para a construção de um mundo mais aberto, justo, democrático e livre do imperialismo dos Estados Unidos:

provou que a dominação unilateral é negativa, demonstrou que a guerra não é o melhor caminho para solucionar conflitos, confirmou que o desrespeito ao direito internacional só agrava os problemas, fez ver que um executivo hipertrofiado é perigoso, sendo fundamental o equilíbrio entre os poderes, provou cabalmente que governar pela mentira pode levar a catástrofes e tirou de seu país a idéia absurda de que o futuro estava assegurado e de que só os Estados Unidos sabiam prever o amanhã.

Sem dúvida, Bush conseguiu o que a esquerda mundial sempre desejou e jamais encontrou meios para alcançar: reduzir o poder do império americano ou, ao menos, gerar dúvida.

A imprensa européia está debochando abertamente do herói (anti)americano por excelência. O alemão Der Spiegel saiu com este título: 'Estados Unidos da América, o país onde o fracasso é recompensado'. Os franceses propuseram que os Estados Unidos da América passem a se chamar República Popular dos Estados Unidos da América ou Estados Socialistas Unidos da América.

Um tablóide achou tão sensacional, escandalosa e obscena a situação que sugeriu aos economistas americanos um estágio na Argentina para aprender a tirar uma nação da quebradeira.

Cada um com o seu método: Hugo Chávez pressiona o congresso com plebiscitos e ameaças de fechamento. Nos Estados Unidos, onde tudo se negocia, a questão é sempre de preço.

Resta saber se os Estados Unidos vão recorrer ao FMI e adotar todas as lições furadas que ajudaram a afundar países que já viviam com a água no pescoço.

Eu também era favorável aos prêmios Nobel da Paz e da Economia para Bush. Nenhum homem fez mais do que ele pela desmoralização da guerra e das razões de Estado. Nenhum líder mundial fez mais do que ele pela revalorização do papel do Estado na economia.

Bush assumiu o governo dos Estados Unidos como um neoliberal selvagem, sucessor de Reagan, uma Margaret Thatcher com chapéu de caubói. Sai como um social-democrata de dar inveja a qualquer político europeu. As nacionalizações de Fannie Mae e Freddie Mac exigiram mais recursos do que o PIB de Portugal em 2007.

Chávez, com toda razão, pode se considerar um aprendiz diante dessa guinada intervencionista do seu principal crítico e adversário. Mais uma vez, o Brasil está na contramão da história: privatizou os seus bancos públicos enquanto os Estados Unidos estatizam instituições financeiras.

Umberto Eco me deu uma boa justificativa para aceitar as medidas defendidas por Bush: melhor a contradição que a ruína. Ah, alguém sabe a quantas anda o risco-Estados Unidos?

juremir@correiodopovo.com.br

Uma excelente terça-feira para você.

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