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sábado, 18 de outubro de 2008
19 de outubro de 2008
N° 15763 - DAVID COIMBRA
Os radialistas
Fui editor-chefe de uma rádio de Santa Catarina, em priscas eras. Num sábado de manhã, a emissora quase vazia, uma atração qualquer caiu por algum motivo e abriu-se um rombo de meia hora na programação. SACRAMENTO! E agora? Corri para a redação a fim de encontrar alguém a quem dar o microfone, enquanto o operador ficou enfileirando comerciais.
Nos corredores, deparei com um velho radialista. Dante Bragatto Netto. Magro, moreno, usava o cabelo tipo mullet. Manja mullet? Aquele rabo do Roberto Carlos e do Chitãozinho. Ou do Xororó, não sei. Seja.
O cabelo do Dante era assim. Nem era velho. Uns 45 anos, talvez menos. Sua antigüidade era do rádio. Fazia futebol, apresentava programas populares e tudo mais. Naquela manhã, sorvia cafezinho em um copo plástico e charlava com a telefonista, escorado na guarda da porta.
– Dante! – Chamei. – Seguinte, meu: vai pra praça entrevistar alguém, contar o que está acontecendo lá, falar qualquer coisa, que vou te chamar do estúdio, está bem?
Ele largou o copinho de café sobre a mesa da telefonista. – Qualquer coisa? – perguntou. – Por quanto tempo?
– Qualquer coisa. Por meia hora – e para consolá-lo, tentei argumentar: – Sei que é difícil, é trabalho duro, mas é que a programação...
– Meia hora... – ele me interrompeu. Não estava me ouvindo. Olhava para cima, sorrindo, sonhador. – Meia hora só para mim! – exclamou, afinal. E dando-me as costas: – Estou indo já!
E se foi, faceiro porque ia poder falar sozinho durante 30 minutos.
É o que me encanta nos radialistas. A energia que têm. O Alexandre Fetter, por exemplo. Você ouve o Fetter anunciando:
– E agora a rapaziada do Pretinho Básico.
Não tem nada de especial nesta frase. O rapaziada bem que lhe crava um acento juvenil, mas, de resto, trata-se de uma sentença trivial. Nem verbo tem. Mas o Fetter lhe dá uma entonação pulsante de significado:
– E agora a rrrrrrrapaziada do Pretchinho Báááááásicooooo!!!
O sujeito pensa: eu preciso ouvir o Pretinho Básico! E ouve.
É por isso que o Fetter, nos seus tempos de solteiro, em que era livre como uma cotovia, quando podia fazer o que bem entendesse e como entendesse, sem dar satisfações a ninguém, quando as madrugadas eram feéricas e as manhãs ignoradas, quando tudo era festa e prazeres, é por isso que nestes tempos o Fetter seduzia mulheres às catadupas.
Bastava-lhe emprestar certa inflexão à voz e as fêmeas de pernas mais longas e macias e nádegas mais empinadas e seios mais rijos e bocas mais carnudas caíam-lhe sobre os joelhos chamando-o de paizinho.
Hoje, tudo acabou. Hoje o Fetter é casado, bem casado, totalmente casado, um dos caras mais casados que já conheci, e, o realmente relevante, feliz.
Mas me referia à energia e à verve dos radialistas. Agora referir-me-ei à contundência deles. Alguns têm a capacidade de transformar o microfone em aguilhão. O Macedão, da Gaúcha, quando o assunto é pedregoso, paro tudo para ouvi-lo. Sei que será incisivo e preciso como um bisturi.
O Nando Gross, meu amigo e colega de Bate Bola, é de estilo semelhante. Por conta disso, dias atrás ele protagonizou um dos grandes momentos do rádio.
Participou de uma entrevista com o tal procurador do STJD, Paulo Schmitt. O Nando foi cercando o procurador, acuando-o, prensando-o, até que o procurador começou a espirrar. Das tantas preciosidades que disse, duas foram gemas raras.
Uma: o procurador se confessou grato por toda a vida ao ex-presidente do STJD, Luiz Zveiter, por ele o ter levado para o tribunal. O que causa estranheza é o seguinte: por que tamanha gratidão? Por que é tão bom trabalhar no STJD? E, se é tão importante assim ser integrante do STJD, isso não torna o integrante suscetível à pressão? Hmm...
Mas o melhor foi quando o procurador falou do Brasileirão de 2005, quando o Inter foi prejudicado pela anulação de 11 jogos do campeonato. Segundo o procurador, foi bom para o Inter ter perdido aquele Brasileiro, porque no ano seguinte o time foi campeão do mundo.
Ora, se um fato tem relação com outro, qual foi a causa da conquista mundial do Inter? Foi Deus quem compensou uma injustiça com um prêmio maior? É isso que o procurador está dizendo? Que ele tem informações sobre os desígnios Dele? Do Senhor? Não pode ser.
O poder do STJD é imenso, mas duvido que chegue a essas altíssimas esferas. Então, por que a derrota de 2005 originou a vitória de 2006? O Inter foi beneficiado pela Fifa e pela Sul-Americana? A Libertadores e o Mundial foram roubados? É isso que o procurador quis dizer???
Foi bonito ter ouvido o procurador assim espremido. Façanha que tal só mesmo por obra da energia, da verve, da contundência de quem nasceu para ser radialista.
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