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segunda-feira, 27 de outubro de 2008
27 de outubro de 2008
N° 15771 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Uma rosa é uma rosa
Aqui na minha rua tem um vendedor de um artigo que não é cotado em nenhuma Bolsa e portanto está absolvido da atual desordem geral do mundo. Ele não negocia ações, derivativos ou o controle de bancos e companhias a perigo.
“Bem barata a dúzia da rosa!” – grita ele, equilibrando buquês entre braços e mãos.
Não creio que opere grandes transações. Esta é uma área da cidade povoada de pessoas apressadas e de repartições públicas nem tanto. As pessoas apressadas têm pouca paciência com a beleza da vida. As repartições públicas não são exatamente um lugar romântico.
Me bate às vezes a vontade de falar ao vendedor que seu produto é efêmero. Malherbe já escrevia que as rosas vivem o que vivem as rosas: uma breve manhã. Me assalta às vezes a tentação de servir-lhe um palpite: que deixe de negociar com rosas e se dedique ao ramo dos automóveis ou dos computadores.
Não aposto que me ouvisse, no entanto. Há gente apaixonada pelas rosas, que, segundo Cecília Meireles, deixam aroma até nos seus espinhos e ao longe o vento vai falando nelas.
Até Shakespeare estudou seus mistérios. Lê-se em Sonho de uma Noite de Verão que “goza de mais ventura a rosa cultivada / do que aquela que, fenecendo no ramo selvagem, / cresce, vive e morre em solitária beatitude”.
Não se debruçou menos sobre elas dona Gertrude Stein, para quem uma rosa é uma rosa é uma rosa. De qualquer forma aí estaria um belo slogan para o vendedor apregoar o seu delicado produto.
Não creio contudo que ele haja sido apresentado à amiga de Alice B. Toklas. É possível, porém, que haja lido Silesius, segundo quem “a rosa não tem por quê, / floresce porque floresce. Não se preocupa consigo. Não pergunta se é amada”.
Mas não é improvável que uma das pessoas apressadas que orbitam por esta rua se pergunte de repente se são amadas.
E, colocando sobre a mesa da repartição pública uma única rosa comprada ao vendedor, suspirem fundo e resolvam gostar de si mesmas.
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