domingo, 12 de outubro de 2008



12 de outubro de 2008
N° 15756 - PAULO SANT’ANA


Companheiros que vão e ficam

Eu gosto muito da palavra companheiro. Tenho verdadeira unção por ela.

Companheiro quer dizer aquele que nos acompanha, serve para marido, mulher, filho, amigo, colega.

Companheiro quer dizer mais que isso: significa aquele que está abraçado conosco na mesma causa.

E hoje estou inclinado a falar de companheirismo.

O companheiro Cyro Silveira Martins Filho está deixando a gerência de jornalismo da Rádio Gaúcha, promovido para diretor de produto da RBS em Santa Catarina.

Ele deixa para trás na Gaúcha um trabalho de muitos frutos, a nossa rádio se firma numa liderança incontestável em radiojornalismo.

Mas eu queria falar da minha relação com ele. Em Munique, na última Copa do Mundo, travamos uma profunda amizade. Ele é culto, inteligente, sensível, isso me atraiu e tivemos momentos de indizível felicidade.

Temos um traço cultural comum: a história do Império Romano. E o Cyro conhece como ninguém os labirintos dos desvarios, das demências, das crueldades mas também das coragens e das grandezas daquela sucessão de imperadores que conduziram os destinos da humanidade por mais de 400 anos.

Vai daí que em nossos diálogos pelas ruas da bela Munique nos encantávamos com as humanidades torpes e sublimes dos romanos e da convivência que tiveram com os gregos, de quem herdaram sábios ensinamentos e singelas perfídias.

A competência do Cyro vai fazer falta aos companheiros que lutaram com ele nos últimos anos para tornar a Rádio Gaúcha ainda mais enraizada nos espíritos dos nossos conterrâneos.

Mas vai fazer falta principalmente a mim, que todos os dias corria para a sua sala em busca de um refrigério intelectual nas conversas que nos animavam e nos enchiam de prazer.

É mais um companheiro que parte para outra missão. E é uma saudade que fica sem doer, debruçada na delícia da recordação.

Ao mesmo tempo, comemorou na última semana seus 80 anos de idade o companheiro Celestino Valenzuela, com quem tivemos décadas de convívio na RBS TV.

Querido Celestino, fica aí pescando no Litoral com a consciência de que uma das melhores coisas que usufruímos no teu convívio foi a imensa cordialidade do teu trato.

Nunca, Celestino, na tua humildade, na tua compreensão, no teu irrepreensível caráter, encontramos uma só palavra ou gesto de inveja, de traição.

Sempre, todos os dias, só topávamos com a tua bondade, aliada a uma exatidão profissional.

Que coisa boa, Celestino, filho da querida dona Zezé, em cuja casa de cômodos da Rua dos Coqueiros, hoje 17 de Junho, eu morei durante os quatro primeiros anos da minha vida, contar-te como um amigo e saber que vives a paz dos justos nas tuas pescarias, repletas, tenho certeza, das recordações dos tempos árduos de trabalho que partilhamos, um tempo que não volta mais, mas enche de saudade saborosa a nossa lembrança.

E finalmente um adeus ao companheiro Luiz Pilla Vares, falecido na última quinta-feira, com quem trabalhamos durante tantos anos aqui em Zero Hora.

O Pilla era um pensador, tinha um raciocínio conclusivo, tudo que ele dizia era magicamente convincente. Foi um grande persuasivo.

Morreu com certeza marxista, talvez ainda trotskista, mas nunca cedeu às idéias de totalitarismo e sempre defendeu um socialismo democrático.

Bate uma saudade na gente de ouvir os argumentos exatos do Pilla.

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