quinta-feira, 30 de outubro de 2008



30 de outubro de 2008 | N° 15774
PAULO SANT’ANA


Bem e mal de mãos dadas

Há fatos que só ocorrem no Rio de Janeiro, mas, como é certo que em seguida serão copiados no Estado, eu fico sempre atento a eles.

Como se sabe, lá no Rio de Janeiro foi instituído um tipo estranho de entidade, algo assim como um ser hermafrodita, criado para defender o bem e o mal ao mesmo tempo: a milícia.

As milícias foram criadas informalmente nas favelas. E tinham como objetivo defender os moradores das favelas do domínio de opressão exercido pelos traficantes sobre eles.

Mas as milícias se tornaram organizações fortes, constituídas quase sempre de policiais e ex-policiais, também de agentes penitenciários.

E logo se transformaram em organizações perversas, que a exemplo dos traficantes cobram dos moradores das favelas taxas para protegê-los.

Em seguida, as milícias passaram a assaltar e matar, além, é claro, de associar-se a traficantes.

Quando se viu, as milícias estavam sendo procuradas pela polícia para responder por crimes os mais hediondos.

Estava preso até o início desta semana no Presídio Bangu 8, um dos mais importantes do Rio de Janeiro, um chefe de milícia: o ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, o Batman.

Ele responde a três processos na Justiça por formação de quadrilha e a pelo menos quatro processos por homicídio.

Estava preso o Batman. Porque não está mais. Segunda-feira passada, entrou no sólido complexo penitenciário um Palio branco que conduzia dois homens, supostamente agentes penitenciários, que foram até uma das galerias e trouxeram Batman, sob o pretexto de transportá-lo até um hospital penitenciário que fica a um quilômetro do presídio, onde seria atendido.

Não se sabe como os homens que resgataram Batman se informaram de que ele teria de ir ao hospital, não se entende como eles se atravessaram no atendimento nem como penetraram no presídio.

O fato é que Batman foi retirado da prisão pela porta da frente, com escolta armada, num rapto e numa fuga espetaculares, diante de toda a segurança penitenciária, que certamente não foi feita de boba, ela tinha conhecimento daquele resgate.

Ou seja, o aparelho penitenciário estava corrompido pela quadrilha do resgate, em parte, a outra parte teve medo dos poderosos que levaram a efeito a bombástica manobra.

Assim é o Rio de Janeiro e assim se prepara para ser, por osmose, o Brasil: os mesmos criminosos que detêm por supremacia as chaves das favelas empunham também as chaves da prisão.

Não se sabe mais quem é polícia ou bandido na cidade, muitas vezes eles desempenham duplamente os mesmos papéis.

A Justiça, distante do calor dos fatos, é lograda e se torna indefesa. A população é praticamente governada pelo mal.

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