sexta-feira, 24 de outubro de 2008



24 de outubro de 2008
N° 15768 - JOSÉ PEDRO GOULART


Pedro e o lobo

Há uma obviedade por trás (sem segundas leituras, por favor) do debate trazido pelo Pedro Cardoso sobre nudez no cinema e na TV: sexo vende. (Como também a violência, há pouco houve demonstração disso com parte da mídia histérica diante de um seqüestro idiota, tirando dele o caldo que desse.)

O fato é que nudez dá ibope, e ibope é dinheiro, fama, poder. Todos buscam isso. Está no nosso DNA. O Pedro Cardoso acusou que os atores são constrangidos a se despirem em cenas onde a nudez não é necessária, mas ressalva que há casos em que isso é exigido. Só que o público é cada vez mais solícito em relação à exigência dos casos.

O público “quer” ver a galera se pelar. E o público manda na audiência, e a audiência manda em todo mundo. Em mim, em nós, no Pedro Cardoso e na bunda da Tiazinha.

Grande parte dos cineastas flerta com a platéia buscando em novelas o elenco dos seus filmes. Talento é uma exigência secundária (e isso é que é grave, não a origem dos elencos). A própria Globo, quando raramente exibe filmes nacionais, elege os que têm atores dela.

É um círculo: os que estão dentro aceitam as regras, e os de fora estão ansiosos para entrar. Diante disso, a nudez é um ingrediente a mais. Antes dela, vem a fama (nudez sem fama vale menos). E a fama pode começar no BBB, numa emissora de segunda, na novela vespertina.

No fundo sinto uma certa ingenuidade no discurso do Pedro Cardoso, mesmo que ele fale em certa parte da questão do mercado.

Pedro concedeu aos atores uma ressalva que muitos não merecem, a maioria participa do esquema sem se queixar e ainda lucra com isso, com capas de revistas, publicidade etc. Outros se queixam, mas se omitem em sair do esquema.

E quase todos, na ânsia de ter o foco sobre si, expõem sua vidas privadas sem comedimento – aliás, entre a Hustler e a Caras, fico com primeira e nem perco tempo pensando no assunto.

Dona Flor e seus Dois Maridos é o filme brasileiro de maior público: Sônia Braga peladona e muito azeite na chapa. Recentemente o explosivo Tropa de Elite transbordou espectadores. Sexo e violência. Binômio de audiência.

É o lobo, Pedro. O lobo quer ver tua gata peladinha. E se pudesse a comeria. E também se excita com violência, especialmente quando o sangue jorra.

É o lobo, Pedrão. E o lobo dá ibope e o lobo confere o ibope. Contra o lobo, a civilização. Essa briga não tem fim. O resto é manifesto.

(Em tempo: como Pedro Cardoso, “por honestida­de intelectual” preciso dizer que sou casado com uma atriz que recusou com pesar o papel principal de uma importante série em cartaz na TV por entender que o roteiro continha demasiadas e desnecessárias cenas de sexo e nudez.)

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