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sexta-feira, 24 de outubro de 2008
24 de outubro de 2008
N° 15768 - PAULO SANT’ANA
A crise sem rosto
O que mais me apavora nesta crise financeira que abala o mundo e parece que agora começa a balançar os alicerces brasileiros é a mais completa alienação sobre sua origem e perspectivas por parte de todos os governantes e analistas.
Ninguém diz nada com nada, os meios de comunicação convocam economistas e entendidos em mercado financeiro, nenhum deles demonstra qualquer segurança em suas análises, apenas tergiversam sobre as causas e tartamudeiam quando se trata de indicar os remédios.
De uma parte ouvi nossos líderes, o presidente da República, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Inicialmente passaram ao país a impressão de que os fundamentos econômicos e financeiros do Brasil eram sólidos e a crise não nos iria afetar de forma alguma.
Logo em seguida, pelas suas fisionomias se podia adivinhar que estavam assustados e que o Brasil passara a ser atingido ameaçadoramente pela crise, tomando algumas raras e veladas providências para preveni-la, no entanto não se mostrando claros sobre a extensão dos danos que esta presumidamente grande turbulência irá produzir sobre a vida brasileira.
A impressão que nossos governantes dão é de que guardam segredos que não querem transmitir à sociedade, não compartilhando deles nem com o Congresso Nacional.
A manchete de ontem de Zero Hora, que foi afinal de todos os jornais brasileiros, acabou terrificante sobre todos os espíritos lúcidos: “Banco do Brasil e Caixa Econômica ganham carta-branca para absorver bancos e empresas”.
Incrível manchete, que espalha a impressão de que nossos bancos privados estão ameaçados de quebra e que grandes empresas estão à beira da insolvência.
Mas será que a situação é tão grave assim?
Como é que podem os supermercados estarem tranqüilamente preparando seus estoques para abastecer os seus clientes de gêneros natalinos, como pode o comércio, a indústria, os serviços estarem funcionando com relativa normalidade, enquanto o governo anuncia que está se aprestando a socorrer financeiramente bancos e empresas?
Falta alguém – e só pode ser o governo – que explique à sociedade qual a verdadeira extensão dessa crise.
Nós precisamos saber qual vai ser a sorte, nos próximos meses, dos empregos, dos negócios, enfim, de toda a atividade econômica brasileira, diante da crise que não tem forma, que não tem desenho, que parece não ter materialidade mas que se abate com um espectro sinistro sobre o espírito de todos os cidadãos.
Está faltando transparência.
E nós brasileiros temos o direito de saber do que nos espera, até mesmo para que passemos a nos comportar de forma compatível com os cuidados que devemos tomar para enfrentar este fantasma horrendo que nos pintam, que se choca e contradiz violentamente com a realidade que estamos vivendo.
Socorro! Clamamos por informações e orientação!
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