domingo, 12 de outubro de 2008



12 de outubro de 2008
N° 15756 - DAVID COIMBRA


Como a sua mulher manda em você

Agora vou explicar por que e como as mulheres mandam no mundo. Vou explicar por que e como as mulheres pisam em nossos pescoços e nos rojam ao chão e nos fazem beijar seus pés macios calçados com delicados e pontiagudos escarpins.

Sempre foi assim, em qualquer tempo, e qualquer homem, por maior que tenha sido ou seja, um dia sentiu os efeitos do poder da mulher. E sofreu.

Pegue-se um dos homens mais influentes da história: Abraão, o patriarca das três grandes religiões monoteístas, o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Abraão não ficou famoso só depois de morto, como tantos personagens da História.

Quando vivia, há 3900 anos, já era um influente chefe de clã, rico criador de caprinos e ovinos, e, o principal, muito amigo do Senhor em pessoa, se é que se pode dizer que o Senhor esteja enquadrado nesta categoria de pessoa.

O fato é que Abraão conversava com Jeová até com alguma intimidade. E Deus gostava tanto dele que lhe fazia promessas. Abraão teria propriedades sem conta e seria o pai de muitos povos, “tão numerosos quanto o pó sobre a terra”.

No entanto, Sara, a mulher de Abraão, era estéril. Assim sendo, sem filhos, de que maneira ele formaria essa prometida posteridade?

A solução foi dada pela própria Sara: que Abraão tomasse sua escrava egípcia, chamada Agar, e fizesse nela um filho. Abraão adorou a idéia e deu início aos trabalhos. Que foram fecundos. Mesmo: nasceu de Agar um menino em quem Abraão pôs o nome de Ismael, que significa “Deus escuta”.

Tudo ia muito bem, até que um dia Sara chamou Abraão e disse que Agar andava rindo dela à socapa, que é o mesmo que rir à sorrelfa. Tenho minhas dúvidas sobre essa parte da história.

Será que Agar estava mesmo gozando de Sara ou Sara ficou com ciúme da fertilidade da escrava? Enfim. O certo é que Sara ficou agastada com a situação, mas não podia fazer nada, já que o filho era importante para Abraão fundar sua dinastia.

Um dia, porém, apareceram para Sara e Abraão três estrangeiros que não eram outros senão três anjos muito graduados lá do Céu: Gabriel, Mirael e Rafael. Eles avisaram a Sara que em um ano ela teria um filho nos braços.

Abraão ficou faceiro com a notícia, mas Sara riu: ela não apenas era estéril, como estava com 89 anos de idade, enquanto Abraão tinha 99! Bem, Charles Chaplin teve um filho aos 82 anos e Oscar Niemeyer, dizem, ainda é ativo e viril aos 100! Só que hoje existe Viagra e gemada, o que não havia 40 séculos atrás.

Logo, era compreensível a risada de Sara. O problema é que os anjos do Senhor não fazem gosto de que se duvide deles. Repreenderam Sara e ordenaram que o menino se chamasse Isaac. Em hebraico, “Gargalhada”.

Com o nascimento de Isaac, seria de se esperar que os desentendimentos entre Sara e Agar terminassem, certo? Errado. A rivalidade entre as duas prosseguiu viva e pulsante como a da Dupla Gre-Nal.

Sara vivia apoquentando Abraão para que ele se livrasse de Agar. Falava tanto, mas tanto, que Abraão não se agüentou: deu uma porção de água e de pão para Agar e Ismael e os despachou para o deserto.

Os dois quase morreram de sede, mas a Providência, providencialmente, os salvou fazendo aparecer um veio d´água no meio da areia. Ismael cresceu e se tornou o pai dos povos árabes, assim como seu meio-irmão Isaac é o pai dos israelitas.

Ou seja: seus descendentes sustentaram pela poeira dos séculos a rivalidade estabelecida por suas mães. A rivalidade Gre-Nal ainda não chegou a este ponto, mas, se continuar no ritmo que anda, logo teremos atentados nas arquibancadas.

Porém, não era da rivalidade que eu ia falar, e sim do poder das mulheres. Abraão era o patriarca, era poderoso e, aos cem anos de idade, devia ser bastante maduro. Mas não suportou a pressão de Sara e mandou o próprio filho para o deserto! Aí está o cerne do poder feminino: a chatice. Você gosta da mesinha de centro que há na sua sala.

Você coloca a cerveja sobre aquela mesinha para ver o jogo e o controle remoto também e volta e meia um prato com salame e queijo, tudo muito legal. Mas a sua mulher quer tirar a mesinha de centro do centro e transferi-la para um canto.

Mesmo que você saiba que sentirá falta da mesinha de centro no centro e que, pela lógica, uma mesinha de centro deve ficar de preferência no centro, e não num canto, você aceita calado que ela troque a mesinha de lugar. Por quê?

Para não se incomodar. Você sabe que, se for argumentar com sua mulher, ela falará tanto que você quase desmaiará de chatice. O cálculo é simples: vale mais não ter a mesinha de centro no centro do que ser amolado durante 45 minutos sem parar.

Precisamente como aconteceu com Tite no caso do Clemer. Todo mundo dizendo para que ele tirasse o Clemer do time. A torcida, a imprensa, a direção, todos. Tite queria manter Clemer no time? Acredito que sim. Mas não agüentou a chateação. Os torcedores usaram a tática das mulheres.

A da sua mulher, que deslocou a mesinha de centro para o canto. A de Sara, que fez Abraão exilar o filho primogênito.

A estratégia milenar e infalível das mulheres para nos dominar, nos rojar ao chão e nos fazer lamber seus pés macios calçados com seus pontiagudos escarpins.

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